Em luta pela organização autónoma dos trabalhadores e pela revolução proletária

Pedro Goulart — 19 Maio 2014

25A12Com a luta de massas que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, foram grandes as conquistas obtidas pelas classes trabalhadoras e pelo povo: no domínio das liberdades, a nível da organização (comissões de trabalhadores e de moradores, sindicatos, poder popular), nos aumentos salariais, nas ocupações de casas, terras e empresas, no campo social (saúde, ensino e segurança). Mas a falta de experiência política e de capacidade organizativa revolucionárias da maior parte dos envolvidos nas lutas haviam de levar a uma pesada derrota no 25 de Novembro de 1975. E, daí para cá, sob a pata do patronato e com a intensificação da exploração capitalista, os trabalhadores e os oprimidos perderam parte significativa das suas conquistas, vendo mesmo atingidos alguns direitos fundamentais.

De salientar que o golpe militar do 25 de Abril em Portugal surgia numa altura em que já começara a evidenciar-se o declínio do capitalismo a nível mundial, particularmente através da queda sustentada da taxa de crescimento do Produto Bruto. E que face à crise de sobreprodução que se verificou ao longo das ultimas décadas, assim como em resposta às dificuldades na acumulação de capital, surgiu uma forte especulação financeira – enorme crescimento dos produtos financeiros derivados – que havia de levar, em 2007, ao rebentamento de uma bolha especulativa, com as nefastas consequências que hoje todos conhecemos: falências, desemprego, aumento das desigualdades, fome.

Embora o estoiro financeiro de 2007 tivesse surgido numa altura em que o proletariado mundial se encontra disperso e politicamente enfraquecido, a verdade é que novas camadas de explorados e oprimidos se lhe vieram juntar, engrossando o seu caudal: entre outros, os camponeses transformados em operários, o exército dos trabalhadores precários e mesmo muitos elementos das chamadas classes médias hoje empobrecidos. Assim, ao contrário do que alguns afirmam, o proletariado não acabou. Apenas precisa de se organizar e de agir como classe. É indispensável que se dote das adequadas estruturas orgânicas, em termos reivindicativos e políticos, capazes não só de desarticular e derrubar a ordem capitalista vigente mas, também, de garantir o exercício do seu poder como classe.

Foi no contexto europeu e mundial que acabamos de referir, que a troika chegou a Portugal, em 2011. Com a orientação e o apoio da troika imperialista, o patronato e os seus lacaios no governo e no aparelho de estado empenharam-se em exaurir o pouco que, em vários domínios, ainda restava de favorável aos explorados e ao povo. Elevado nível de desemprego, diminuição de direitos arduamente conquistados e empobrecimento generalizado, tais alguns dos resultados das imposições da troika e do patronato português. À alegria explosiva e à esperança de há 40 anos sucedem hoje, entre nós, a tristeza e a desesperança de quase todo um povo.

Contudo, a revolta dos atingidos, apesar de muitas vezes espontânea e desorganizada, também trouxe para a rua em protesto centenas de milhares de trabalhadores, precários, desempregados e reformados. E a proletarização crescente mostra, também aqui, estar na ordem do dia. Saibamos alimentar e organizar adequadamente a revolta, não para trocar uns gestores do capital por outros, mas com o objectivo central da tomada e exercício do poder pelo proletariado. É essa a alternativa por que lutamos.


Comentários dos leitores

heitordasilva 20/5/2014, 7:10

Pois é! Como projeto acho que sim. que esse deverá ser o objetivo as "massas"proletarizadas...se e quando se assumam como tal vanguarda ...
Vejo aqui, à partida, um obstáculo acrescentado à lista dos exploradores...
que dificulta, sobremaneira, a tão importante tomada de consciência por boa parte dos proletarizados para, sentindo - se como proletários, se decidam libertar-se das fortes correias que os amarram aos seus próprios partidos...e que los delimita quanto à sua livre capacidade de se auto-organizarem...e,assim, se constituam em orgãos de tomada e execício do Poder...
Quanto a mim, essa será, para os proletários como tal conscientes como o rabo do gato, na acção de o esfolar - a última etapa da sua libertação....

José Borralho 24/5/2014, 9:37

Aqui é o sítio ideal para quem está em desacordo com esta tomada de posição o faça livremente, apresentando os seus argumentos.
Todos teríamos a ganhar.
Pessoalmente estou de acordo que, na actual situação o apelo à abstenção é uma fuga à luta política.
Porque; a concentração dos poderes do capital, as ilusões das massas e até desinteresse da vida política, a sua falta de combatividade face à ofensiva burguesa, a fragilidade das forças de esquerda exigem, não o alheamento mas a denúncia e o combate.
Pregar a abstenção corresponde a uma fuga à luta e a remeter as massas para a inação.
Sem qualquer ilusão de que é através do parlamento que pode haver uma mudança na correlação de forças, a atitude do proletariado deverá ser a de demonstrar activamente o seu repúdio à austeridade, e à União Europeia capitalista e imperialista.

António Alvão 7/6/2014, 23:22

"Se não trabalham por mim, não têm que decidirem por mim"; se as eleições mudassem alguma coisa, elas seriam proibidas. As eleições é um ato de domesticação daqueles que deveriam de lutar em vez de irem votar. Todos aqueles que professam a ideologia do poder, odeiam a abstenção. E a tal revolução do proletariado que já foi feita, com a tal vanguarda ilustrada de Marxismo/Leninismo, em que condições se encontra hoje esse proletariado?
O capitalismo joga com uma arma muito poderosa, onde toda a esquerda que chegue ao poder a primeira coisa que faz é encher a blusa de todos os seus familiares e de alguns amigos. Por que os defensores da revolução proletária, em vez de defenderem o estado, não defendem antes o comunitarismo? É perguntar a Eduardo dos Santos, Lulas, Dilmas e tantos outros que chegaram ao poder pela esquerda, qual é melhor: ser rico ou ser proletário? O maior banditismo ideológico, é estar no poder em nome do comunismo e não o querer! Aquele proletariado que confiou nos seus dirigentes, foram bem burlados e tiveram os seus carrascos,como os comunards da comuna de Paris! Por isso mesmo me tornei defensor do ideal da facção anti-autoritária da primeira internacional - (AIT) - Abraços.


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