Diz-me quem idolatras…

António Louçã — 8 Maio 2014

crato1A morte de Veiga Simão foi pretexto para os habituais elogios fúnebres. Até aqui, nada de extraordinário: mais longe já tinham ido um PS que andou com ele ao colo depois do 25 de Abril, um Mário Soares que o nomeou seu ministro da Indústria na coligação do Bloco Central, um António Guterres que o nomeou mais tarde seu ministro da Defesa. Elogiá-lo depois de morto terá sido, apesar de tudo, menos melindroso do que decidir atribuir-lhe responsabilidades políticas em vida. Sem surpresas, os encómios do PS concentraram-se principalmente na acção do falecido à frente dos seus dois Ministérios do pós-25 de Abril.

Mais curioso foi o elogio fúnebre de Nuno Crato, que se referiu especificamente à pasta de Simão no tempo do fascismo. Para Crato, o último ministro marcelista da Educação foi “responsável por uma vasta reforma que permitiu lançar as bases para a generalização e democratização do ensino”. Com a idade que tem Nuno Crato e com o seu passado político de esquerda – longe vai ele -, é natural que ainda tenha sentido na pele o que significava essa reforma. A palavra “gorilas” não lhe diz nada?

A imagem que Crato retém de Simão diz-nos mais sobre Crato do que sobre Simão. Se o actual ministro idolatra o seu antecessor, não deveremos nós esperar que lhe siga o exemplo e mande, um dia destes, para as escolas, um bando de gorilas com a missão de meterem na ordem os professores e os estudantes? Essa sim, seria uma comemoração do 25 de Abril sincera e sentida, saída bem do fundo da alma deste Governo trauliteiro.


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