Trabalhadores em luta – breve recensão

Pedro Goulart — 7 Janeiro 2014

INCMPese embora a poderosa ofensiva do patronato e de várias instituições nacionais — incluindo o governo lacaio de Passos Coelho — e internacionais do capitalismo (CE, FMI, BCE, OCDE), apesar do desemprego e do medo instalados na sociedade portuguesa, os trabalhadores, os reformados e os jovens não têm deixado de lutar e de manifestar-se dispostos à continuação do combate. De entre os numerosos protestos realizados nos últimos tempos, ou a realizar brevemente, de Norte a Sul do País, incluindo concentrações, manifestações e greves, destacamos alguns dos mais importantes.

Metro de Lisboa
Na continuação das lutas que têm vindo a desenvolver, os trabalhadores do Metro param parcialmente uma vez por semana a partir de Janeiro. Desde Outubro que os trabalhadores do Metro têm vindo a contestar as medidas inscritas no Orçamento do Estado para 2014, como é o caso dos cortes salariais que vão ser agravados no próximo ano, passando a afectar as remunerações a partir dos 600 euros mensais. Também se manifestam contra o novo regime jurídico das empresas públicas e a suspensão do pagamento dos complementos de pensão.

Carris, TST e CP
Os trabalhadores da Carris estiveram em greve parcial nos dias 24, 25 e 31 de Dezembro e 1 de Janeiro, num protesto convocado pela Fectrans contra o Orçamento de Estado para 2104 e os cortes nos salários. Em declarações à Lusa, Manuel Leal, da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans) afirmou que as paragens na Carris surgem face à “continuação daquilo que é a luta dos trabalhadores contra a aplicação dos novos roubos definidos quer no Orçamento de Estado, quer no decreto-lei 133/2013 (sector público empresarial)”. Também, no mesmo período, os trabalhadores dos STCP, no Porto, estão em luta.
Os motoristas dos Transportes Sul do Tejo (TST) estão em greve nos mesmos dias, segundo o Sindical Nacional dos Motoristas.
Aliás, o protesto estende-se a todo o sector dos transportes. Mantêm-se os pré-avisos de greve ao trabalho extraordinário na EMEF, CP Carga e CP. Os trabalhadores da Rodoviária do Tejo vão parar a 7 de Janeiro. Na Groundforce, igualmente, foram convocadas greves de 24 horas para os dias 24 e 31 de Dezembro.

Casa da Moeda
Os trabalhadores da Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM) estiveram em luta no dia 14 de Novembro, concentrados à porta da empresa, em Lisboa. Protestavam contra uma decisão da Administração, acusando-a de procurar roubar-lhes direitos no campo social, nomeadamente na saúde, e em relação aos filhos. Referiam-se a uma decisão arbitrária da Administração, tomada sem que os trabalhadores tivessem sido consultados. A Comissão de Trabalhadores considerou nula esta deliberação da Administração que alterava o regulamento dos Serviços Sociais e, caso esta não retrocedesse nas suas intenções, afirmava-se disposta a prosseguir a luta.
Apesar da Administração ter aceitado negociar com os trabalhadores, as reuniões realizadas com esse objectivo não produziram resultados positivos. Os trabalhadores decidiram-se então por uma greve no dia 19 de Dezembro. Altamiro Dias, da CT da INCM destacou, na altura, a elevada mobilização dos trabalhadores e o facto de o plenário dos trabalhadores, nos dias 11 e 12 de Dezembro, em Lisboa, Porto e Gondomar, ter decidido a greve com uma participação que desde há 30 anos não se verificava em plenários realizados na empresa.

Professores e Enfermeiros em luta
De destacar, pela combatividade e persistência, as lutas desenvolvidas por estes dois grupos profissionais contra os enormes cortes na Educação e na Saúde, com relevo para o protesto contra as políticas sectárias de Nuno Crato. As medidas levadas a cabo pelo governo de Passos Coelho já estão a provocar sérios danos na Saúde e na Educação, quer em relação aos utentes quer em relação aos profissionais de dois sectores tão essenciais às classes trabalhadoras e ao País.

Trabalhadores dos ENVC em Lisboa
Na continuação dos seus protestos, centenas de trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENCV) manifestaram-se agora em Lisboa a fim de exigir o fim da subconcessão da empresa, com o concomitante despedimento de centenas de trabalhadores, afirmando que está a ser cometido um crime social contra o seu distrito. Aliás, foi pedido um inquérito parlamentar em relação a esta subconcessão à Martifer, por existirem indícios de negócios sujos (até de fontes insuspeitas) no decurso mais recente deste processo. Também o presidente da Câmara de Viana do Castelo anunciou que vai pedir à Procuradoria-Geral da República uma nova investigação sobre os estaleiros navais, desta vez às “acções de transparência duvidosa” da Empordef e da administração de empresa.

Trabalhadores de call-centers da EDP protestaram junto à empresa
Os trabalhadores das empresas de call-centers que prestam serviços à EDP concentraram-se frente ao edifício da empresa, em Lisboa, em protesto contra a sua situação de precariedade e baixos salários. O SIESI e o Sindicato dos Trablhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Centro-Norte (SITE Centro-Norte), exigem o fim da política de entrega de actividades próprias e imprescindíveis da EDP a empreiteiros, com o único fim de poupar nos salários e tornar o trabalho precário. Os sindicatos consideram que este pessoal deve ser integrado nos quadros da empresa eléctrica.

Greve na recolha de lixo
Foi convocada em Lisboa uma acção de protesto que visa contestar, entre outras coisas, a passagem de competências, meios humanos e materiais para as juntas de freguesia, pois a Câmara de Lisboa pretende transferir 1800 trabalhadores para as 24 juntas de freguesia da cidade. Trata-se aqui de descentralizar para beneficiar as populações ou de precarizar ainda mais a situação destes trabalhadores envolvidos num trabalho bastante penoso, para depois despedir parte deles? Por aquilo que conhecemos da prática dos governantes burgueses é de temer o pior.
A acção de protesto foi convocada para os dias 24 de Dezembro a 5 de Janeiro por dois sindicatos ligados à CGTP, o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) e o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML). Os funcionários municipais estiveram em greve ao trabalho normal, às horas extraordinárias e ao trabalho suplementar, afectando a recolha de lixo entre o Natal e o Ano Novo.

Alterar o rumo
Apesar da dedicação e dos sacrifícios demonstrados pelos trabalhadores e por diversos sectores do povo, é preciso aprofundar, generalizar e unificar as lutas. As diversas legislações e medidas ignóbeis dos governos burgueses caminharam de tal modo, a transferência de riqueza dos trabalhadores para o capital têm sido de tal ordem, a destruição de alguns instrumentos económicos e sociais que ainda defendiam os trabalhadores tem atingido tais proporções, que é urgente compreender e agir no sentido de que só uma profunda alteração do poder político, assim como das relações de produção, conseguirão alterar positivamente a grave situação em que nos encontramos.


Comentários dos leitores

Manuel Monteiro 23/1/2014, 19:34

O problema é que estas lutas, por falta de orientação revolucionária, desgastam mais os trabalhadores do que o sistema capitalista...
Manuel Monteiro

Cem Flores 25/2/2014, 14:42

Muito bom este sítio. Gostamos de muito do que se escreve aqui.
Acompanhem nosso debate e nossa tentativa de uma análise marxistas da realidade brasileira e do imperialismo em nosso blog: "que cem flores desabrochem! Que cem escolas rivalizem!":
http://cemflores.blogspot.com.br.
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