O “milagre”

18 Novembro 2013

O governo acompanhou a apresentação do Orçamento do Estado de insistentes referências a “sinais de recuperação”, tendo o ministro Pires de Lima falado mesmo em “milagre económico”. O aumento das exportações, o ténue crescimento da produção industrial e mais uns quantos dados precários são os argumentos do governo para mostrar o êxito da sua política.

Mas, do outro lado, os números do desemprego não baixam, a quebra dos salários continua, a desesperança de quem trabalha não se esbate. Como se entende esta contradição? Não há contradição — o êxito que o governo e os patrões podem apresentar assenta precisamente na desgraça dos trabalhadores.

Não vale a pena, pois, esgrimir com os números do governo — o sucesso dos negócios, valha o que valer, está na razão directa da pobreza da maioria da população. O verdadeiro “milagre” reside afinal nesta coisa simples que é aumentar a exploração da maioria para alimentar o sucesso económico da minoria capitalista.

Pires de Lima quis cantar como uma “vitória das empresas” aquilo que resulta de uma colossal transferência de recursos para as mãos de privados feita por acção do Estado. Os financiamentos à banca e às empresas estão a ser cobrados à população trabalhadora através da subida dos impostos, das quebras salariais, da redução das prestações sociais, da descapitalização dos serviços públicos. Esta evidência prova o contrário do que pretende o governo: o mundo empresarial parasita a sociedade inteira; não pode sobreviver, por isso, sem o apoio do Estado, cuja função é assegurar esse contínuo roubo cometido sob fachada legal.

É essa a missão do Orçamento do Estado. O elogio da política seguida, as ameaças de novo resgate, a pressão sobre o Tribunal Constitucional, os convites à oposição para apresentar alternativas fazem parte da necessária cortina de fumo.


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