As autárquicas em análise

José Borralho — 3 Outubro 2013

1. Sem sombra de dúvida, a direita no poder, revanchista e austeritária, sofreu uma derrota nas recentes eleições autárquicas que reflecte o repúdio pela política do governo e da troika. Ponto assente.
O voto maioritário no PS reflecte a rejeição da austeridade e a esperança numa política menos agressiva do que aquela que a direita aplica brutalmente. Os que se deslocaram para o PS vêem em Seguro e no PS um mal menor.

2. A CDU aumentou o número de votos, de câmaras e de autarcas. Foi recompensada pela sua luta de resistência à política reaccionária do governo e da troika imperialista. A sua insistência na derrota da actual política, embora sempre dentro dos parâmetros de soluções moderadas, como a luta pelo crescimento da economia capitalista e pela reestruturação da dívida do capital, retirou dividendos por aparecer aos olhos de muitas pessoas de esquerda como a força que dirige a resistência à política de austeridade.

3. A derrota do BE é a consequência da sua política de proximidade quer à CDU quer ao PS. Efectivamente, parece ficar cada vez mais claro que uma política que queira criar espaço entre estas forças políticas, tem necessariamente de moderar objectivos políticos e assemelhar-se a ambos. Os eleitores moderados do BE deslocaram-se para o PS, aqueles com mais espírito de luta escolheram quem lhes parece em melhores condições para dirigir a resistência à política reaccionária que se abate sobre o povo deslocaram-se para a CDU, reduzindo visivelmente o BE enquanto organização política.

4. A derrota da direita vai dar ânimo aos trabalhadores e ao povo para as batalhas que se avizinham, para fazer frente ao governo e à sua política de cortes, de desemprego, de empobrecimento, de destruição das funções sociais do Estado, política essa já anunciada pelo primeiro-ministro.
Essa luta, para sair vitoriosa, deve ter continuidade. Não pode ficar na dependência nem da AR nem de outras autoridades como o Tribunal Constitucional, mas sim, contar com a determinação dos trabalhadores, das massas de assalariados vítimas das políticas da direita. É aí que está a força para derrotar a direita.

5. Nenhumas ilusões: a crise que aí está não resulta da crise financeira mas sim do próprio capitalismo em crise agonizante.
Qualquer ideia de que vamos lá com uma batalha da produção, é um equívoco. Qualquer ideia de que o capital vai aceitar a reestruturação da dívida e dessa forma a economia entrará nos eixos, é uma ilusão.
Se queremos vencer a política da direita, temos de colocar em primeiro plano a luta contra o capitalismo, colocarmo-nos do ponto de vista anti-capitalista. Não basta a luta democrática moderada.
Parece assim abrir-se campo para a aceitação pela vanguarda popular de uma política para lá da moderação do BE e da CDU, uma política que ponha em causa a origem da crise — o capitalismo, — e se bata por ela aclarando a sua alternativa, o seu projecto de sociedade.

6. No imediato:
– Exigir que o capital seja taxado ao máximo, as suas fortunas e heranças, os artigos de luxo, as mordomias, os seus lucros, os seus ganhos bolsistas, os seus lucros accionistas
– Congelar os lucros das PPP e das rendas do Estado ao capital
– Pôr o capital a pagar a dívida, foram eles que a fizeram
– Vão buscar milhares de milhões à economia paralela
– Apoio aos bairros pobres, e combater a Lei das Rendas
– Extensão do subsídio de desemprego a todos os desempregados
– Aumento do salário mínimo
– Trabalho para todos, não ao aumento do horário de trabalho.

A lógica da luta contra a crise e contra o capitalismo terá de passar por aqui.
Dentro disso, há que dar todo o apoio às manifestações convocadas para Outubro.


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