Um alerta terrorista

Carlos Completo — 16 Agosto 2013

O alerta contra o perigo de uma ofensiva terrorista lançado pelos EUA de Obama (à semelhança da “descoberta” das armas de destruição maciça no Iraque, nos tempos de Bush), e logo repetido por vários países satélites da potência imperialista, foi, além do mais, uma cortina de fumo criada para justificar o tenebroso programa de vigilância levado a cabo pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA — o PRISM.
O PRISM é um programa secreto que permite entrar em todo o tipo de comunicações (dentro e fora dos EUA) e que gerou forte polémica quando foi denunciado (e bem) por Edward Snowden, actualmente asilado na Rússia.

Depois de muitas notícias que revelavam que os EUA tinham chegado a espiar a própria União Europeia, os defensores do PRISM viram na dita ofensiva terrorista uma oportunidade para justificar este programa. O próprio Barack Obama também veio a público defender a sua dama, tentando justificar a sua necessidade. Mas, face às fortes críticas internas e externas, o presidente americano viu-se obrigado a limitar (pelo menos oficialmente) o alcance dos programas de vigilância dos EUA. Aqui, o recuo de Obama representou nitidamente uma vitória da corajosa denúncia de Edward Snowden.

Entre nós, a vigilância electrónica (e não só) dos Estados sobre os cidadãos não teve ainda a repulsa que merecia. Até beneficiou de vários silêncios cúmplices, assim como de alguns apoios mais ou menos explícitos. Por exemplo, a propósito deste caso, o professor universitário Paulo Pereira de Almeida, que foi vice-presidente do OSCOT (Observatório para a Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo) e com responsabilidades na Revista Segurança e Defesa, não esconde o seu apoio a programas do tipo PRISM — o que critica é a falta de maturidade dos quadros recrutados para os Serviços de Informações, referindo-se concretamente ao que considera como sendo o comportamento nefasto de Bradley Manning (*) ou Edward Snowden, e que geram aquilo a que ele chama de novo “terrorismo” digital. Lamentando ainda: “o aumento da crispação na relação política entre os Estados Unidos da América e a Rússia; e, depois, um conjunto de acidentes diplomáticos em cadeia, dos quais o caso português envolvendo o ministro Paulo Portas e o avião do Presidente Evo Morales da Bolívia”.

São dirigentes políticos, como Obama, e professores universitários, como Paulo Pereira de Almeida, que os povos e os cidadãos bem podiam e deviam dispensar.

(*) Bradley Manning, soldado do exército dos EUA, foi preso em Maio de 2010 no Iraque por suspeita de ter passado informações secretas ao site Wikileaks, nomeadamente sobre os crimes cometidos pelas forças armadas norte-americanas. Mantido nas mais severas condições de detenção e sujeito a tortura, foi condenado em Julho por um tribunal militar, podendo a sentença ir até 90 anos de cadeia.


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