Um governo mal-cheiroso

Pedro Goulart — 2 Agosto 2013

É já longa a lista de sondados e contactados para ministros ou secretários de Estado dos vários governos de Passos Coelho que neles se têm recusado a participar. A nova composição do governo, repudiado pelas classes trabalhadoras e desgastado pelas lutas de massas, reflecte as contradições internas nas classes dominantes (e na coligação PSD/CDS) e é produto da dificuldade em recrutar membros para um executivo desacreditado junto de vastos sectores da burguesia. Daí, a actual exposição pública de vários casos ministeriais de notório mau cheiro num governo recentemente recauchutado.

Assim:
– Rui Machete, apesar das suas conhecidas e fortes ligações ao caso BPN (foi durante anos presidente do Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios, detentora do BPN) e também a outro caso de actividades criminosas – o do BPP – foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros. E, como outros, beneficiou de informação privilegiada no negócio de acções, obtendo chorudos lucros, que hoje os contribuintes portugueses estão a pagar. De referir ainda que Machete foi também presidente da FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, uma agência ao serviço do imperialismo norte-americano), cargo para o qual foi nomeado por Mário Soares e em que se manteve cerca de 20 anos. E, a propósito, é de recordar que no caso BPN estiveram envolvidas numerosas figuras do cavaquismo, como Oliveira e Costa e Franquelim Alves. Ainda, de lembrar aqui, o conhecido caso dos também proveitosos investimentos da família Cavaco Silva no BPN!

– Os submarinos de Portas (adjudicados à Ferrostal pelo então governo de Durão Barroso, de quem Paulo Portas era então ministro da Defesa) e a corrupção a eles associada já foram objecto de condenações em diversos países (Alemanha e Grécia), mas em Portugal os corruptos continuam livres, embora o caso não esteja esquecido, e, por isso, é de vez em quando transformado em arma de arremesso contra o governo. Contudo, Paulo Portas é agora vice-primeiro-ministro.

– Maria Luís Albuquerque, a despeito de responsável na contratação de swaps, de ter arrastado durante quase dois anos a correcção deste grave problema, de nomear um secretário de Estado também envolvido nestas negociatas e de ter mentido no Parlamento sobre o seu conhecimento destes contratos de alto risco (isto não iliba Sócrates e os seus ministros de negócios ruinosos para o Estado português), continua a merecer a confiança de Passos Coelho como ministra das Finanças. Mas terá, logicamente, uma posição frágil no actual governo.

– O próprio Passos Coelho (juntamente com Miguel Relvas) está sob suspeita de fraude relativamente a uma sua empresa — a Tecnoforma — e a indevida aplicação de fundos europeus. E o chefe do governo, por uma deliberada política geradora do empobrecimento quase generalizado dos portugueses, pela inconsistência política e pelo constante dizer e desdizer, certamente não será o político mais capaz de realizar os interesses das classes dominantes burguesas. Problema delas, mas também problema nosso — das classes trabalhadoras e do povo — que nos confrontamos com as malfeitorias de uma política ao serviço do capital, cuja prática diária alia a incompetência à má-fé.


Comentários dos leitores

heior da silva 2/8/2013, 17:11

A questão assenta no seu incontornável ADN de classe que os condiciona à partida, amarrando-os à intransigente defesa dos seus interesses respectivos, ao estilo do "custe o que custar"com que actuam, com a sua prepotente imposição... o que os qualifica como anti-sociais por sua natureza...
Como diria um vizinho meu" quando eles são de raça, não há nada afazer!... l


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