A greve geral
José Borralho — 3 Julho 2013
O governo preferia que os trabalhadores trabalhassem. Bronco e sem escrúpulos, manda trabalhar um milhão e quinhentos mil desempregados, 30% de precários, 200 mil que já tinha mandado emigrar. Só faltou mandar trabalhar os reformados e os acamados. Passos Coelho, que desconhece o que é o trabalho, já pode ser justamente considerado o maior exterminador de emprego das últimas décadas.
Os trabalhadores responderam como puderam. Na sua maioria profundamente descontentes com a austeridade, aderiram à greve geral, mesmo que lhes doesse nos magros salários. Lutaram, fizeram greve, manifestaram-se, e, com mais ou menos convicção nos objectivos propostos, escolheram a via da luta de classe para desmoralizar e derrotar o governo e a sua política austeritária e autoritária, cruel e cega. Mesmo muitos dos que foram trabalhar no dia 27 estão descontentes com a política do governo.
Sim, só pelo caminho da luta os trabalhadores, os proletários, os jovens, os reformados, os pobres eliminarão este poder que conduz o país para o abismo, e a vida de quem trabalha para um inferno de angústias.
Algo, porém, falta para que os lutadores ganhem mais entusiasmo e convicção. Quem conduz a luta, fá-lo na perspectiva de derrubar o governo e isso está correcto, mandá-lo às malvas quanto mais cedo melhor.
A questão coloca-se ao nível da alternativa à política capitalista e ao sistema que a sustenta apoiada no lucro e na exploração.
Se o que é proposto aos trabalhadores é a continuidade do sistema capitalista apenas com a diferença de que esse sistema promova o crescimento económico mas no mesmo quadro de relações de produção e num consenso para dar corpo a essa política — aí os sectores mais conscientes e combativos dos trabalhadores não se revêem nessa proposta reformista do sistema.
Uma tal alternativa não melhora sequer por vir envolvida num hipotético governo de esquerda, que ninguém entende como poderá aparecer na cena política, consideradas as relações de forças sociais presentes. Por isso, as atitudes combativas esporádicas, como o corte de estrada promovido por um grupo de manifestantes descontentes com a frouxidão da dita alternativa.
Fechou-se um ciclo do desenvolvimento do capitalismo que desaguou numa profunda crise que exige uma alternativa de sistema. Abriu-se no mundo uma brecha para que o proletariado afirme o seu programa de luta pelo socialismo.
Na actual situação portuguesa tem todo o sentido reclamar: abaixo o governo, fora a troika. Exigir a anulação de todas as medidas de austeridade, exigir trabalho para todos. Tem todo o sentido lutar para taxar o capital, para que seja o capital a pagar a crise e a pagar a dívida.
Nesta base poderemos construir a mais ampla unidade numa frente popular anti-capitalista onde cabem os trabalhadores, os sindicatos, movimentos sociais de protesto, reformados, desempregados, todos os que são vítimas da política antipopular do governo.
Comentários dos leitores
•Luz13 10/7/2013, 22:43
Vamos manifestar, mas com lucidez! Gostei do blog. Aline Da Cidade das Pirâmides, em meio
a uma passeata de estudantes, mas sem vandalismo!
Vejam! http://www.youtube.com/watch?v=62b3f66OP60&feature=youtu.be …