Ricardo Salgado, um dos vampiros
Pedro Goulart — 31 Maio 2013
Em recente apresentação do Alqueva a investidores agrícolas estrangeiros, Ricardo Salgado, presidente do BES, banco que apoia esta iniciativa em conjunto com a EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva), foi inquirido a propósito do grande número de imigrantes a trabalhar na região e, logo, explicou: “Há imigrantes que substituem os portugueses que preferem ficar com o subsídio de desemprego”. E prosseguiu: “Se os portugueses não querem trabalhar e preferem estar no subsídio de desemprego, há imigrantes que trabalham, alegremente, na agricultura e esse é um factor positivo”.
Também João Basto, presidente da EDIA, e Pedro Reis, presidente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), dizem não perceber a razão da falta de trabalhadores portugueses no Alqueva. E João Basto desenvolve o seu pensamento: “Não faz sentido num país com elevados números de desemprego que exista este desencontro entre a oferta e a procura”, mas assegura: “Nenhum projecto deixou de ser concretizado por falta de trabalhadores, já que há mão-de-obra estrangeira disponível”.
Como podem os capitalistas — os Ricardo Salgado, os Ulrich e os Soares dos Santos — assim como os seus lacaios no aparelho de Estado e nos média, acusarem diariamente os trabalhadores de não se contentarem com os salários de miséria que lhes pretendem impor? Passados há muito os sustos do período revolucionário de 1974/1975, estes patrões arrogantes e sem vergonha têm visto crescer o seu domínio sobre os diversos governos burgueses, assim como a sua quase total impunidade em relação ao que dizem e ao que fazem. Daí a sua desfaçatez. É que, apesar do crescente e fomentado aumento do desemprego e do correspondente aumento do exército de reserva (visando o abaixamento dos salários), os capitalistas consideram que isto ainda não está a dar os resultados que pretendiam!
Voltando ainda a Ricardo Salgado, o presidente do BES antes de depor na Operação Monte Branco (relativa a crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais), fez três rectificações fiscais entre Junho e Dezembro de 2012 (por sucessivos “lapsos” nas suas declarações) que o obrigaram (o escândalo era grande) a pagar mais 4,3 milhões de euros de IRS por rendimentos de capitais e de trabalho no estrangeiro. O mesmo Ricardo Salgado que, nesse mesmo ano, acabaria por baixar o seu salário em 32%, embora ainda ficando a ganhar uns “razoáveis” 548 mil euros anuais. É este banqueiro rico — um dos vampiros que sugam os trabalhadores — que ainda se insurge contra os portugueses que não querem trabalhar com salários miseráveis!
Até quando continuarão os capitalistas (com um regime político falido e o seu sistema económico putrefacto) a abusar do sofrimento e da paciência dos oprimidos e explorados? Uma resposta que, no fundamental, só pode ser dada pelas classes trabalhadoras.