Forças Armadas, missões e capacidades: gastos desnecessários
Pedro Goulart — 23 Fevereiro 2013
Em recente entrevista a Judite de Sousa, na TVI24, com Medina Carreira de permeio, e a propósito do previsto corte de 4000 milhões de euros nos gastos permanentes do Estado (conforme combinação entre o governo e a troika) o general Loureiro dos Santos afirmou que os cortes previstos para as Forças Armadas (FFAA), se levados a cabo, podiam gerar indisciplina nos meios militares.
Da intervenção de Loureiro dos Santos, para além de uma crítica contundente ao relatório do FMI sobre os cortes no aparelho do Estado, ressaltou claramente um aviso/chantagem sobre o que poderia acontecer se o governo de Passos Coelho não cedesse às exigências dos chefes militares. Segundo o antigo vice-chefe do EMGFA, colocados os militares perante a incapacidade de cumprirem as suas missões, tornar-se-ia plausível uma insubordinação das FFAA.
Mas, para Loureiro dos Santos, que é um dos membros da comissão criada pelo Governo de Passos Coelho para apresentar propostas de alterações ao Conceito Estratégico de Defesa Nacional, alterações que também servirão para cortes neste sector, quais as prioridades das Forças Armadas?
São, para além de alguns floreados, missões no âmbito da segurança internacional, por exemplo, na participação em guerras imperialistas como nas do Iraque, da Líbia e do Afeganistão. Alias, no campo internacional, tem sido esta a prática das FFAA. Mas, também, uma intervenção no âmbito da segurança nacional. Com o forte agravamento das medidas governamentais, ditas de austeridade, é provável o aparecimento de revoltas que as polícias do regime se mostrem incapazes de controlar e, aí (outra prioridade de Loureiro dos Santos), interviriam, então, as FFAA. Este último tipo de acção ainda não foi necessário, porque as revoltas populares não chegaram a nível que tal se impusesse.
De acordo com várias declarações que têm vindo a público nos últimos tempos, provindas de outros generais, almirantes e altas patentes militares, das cúpulas dos partidos políticos do regime, assim como de grande parte dos analistas políticos, todos eles, pelo que dizem ou pelo que calam, defendem, no fundamental, o mesmo que Loureiro dos Santos sobre a importância e o papel das FFAA – apresentadas como uma necessária função de soberania.
Assim, no entender da corja que detém o poder económico, político e militar, as Forças Armadas, no plano internacional, devem dar apoio, através da NATO ou de outras siglas usadas para o efeito, às políticas de rapina e opressão dos povos. E, no plano nacional, serão uma garantia de protecção das classes dominantes burguesas, na prossecução dos seus objectivos de acumulação capitalista.
É tempo de dizer a esta gente que enche a boca com as funções de soberania, que pare de nos tentar impingir essas fantasias. Como se fosse possível a um país como Portugal, enredado e dependente da teia capitalista mundial, afirmar seriamente a sua soberania! E também aqueles que, à esquerda, detestando e opondo-se à actual situação, ainda sonham com um novo 25 de Abril desencadeado pelos militares, que se desenganem: nem a situação política portuguesa de 2013 é idêntica à de 1974, nem a actual composição das FFAA se assemelha à de então!
E já agora, que os governos da burguesia tanto insistem na necessidade de se fazerem “poupanças” permanentes, que as façam, mas a sério, nas FFAA. Não se esqueçam, também, de ir às várias Polícias, à Justiça e à Diplomacia. Pouparão, assim, milhares de milhões de euros nos próximos anos em gastos desnecessários. Ou será que às classes dominantes não convêm grandes poupanças nestas áreas? Mas, falando apenas sobre as FFAA, quanto menor for o gasto aqui – em submarinos, aviões, helicópteros, carros de combate, cerca de 40 mil militares, assim como nos elevados salários pagos a generais, almirantes e outras altas patentes militares – mais dinheiro haverá para gastar com as áreas fundamentais para a generalidade dos portugueses: na Educação, na Saúde e na Segurança Social!