Os fundamentos do capitalismo entram em decadência

Fred Goldstein / MV — 7 Fevereiro 2013

Conforme sublinham vários autores marxistas, a presente crise capitalista tem por origem uma queda da taxa de lucro dos capitais, em consequência do enorme progresso tecnológico verificado, digamos, no último meio século e no consequente aumento da produtividade do trabalho.
Com efeito, e como Karl Marx fez notar, o crescente peso das inovações tecnológicas no sistema produtivo capitalista aumenta a composição orgânica do capital, isto é, a proporção entre o capital constante (maquinaria, instalações, matérias primas, etc.) e o capital variável (salários). Por outras palavras, a proporção entre trabalho morto e trabalho vivo. Esta alteração orgânica está na origem da queda da taxa de lucro dos capitais, uma vez que, para um dado capital total, diminui a proporção de força de trabalho, o único factor responsável pela criação de valor novo.

A tendência de queda da taxa de lucro tem sido historicamente contrariada pelo capitalismo através do aumento do volume da produção, da baixa global de salários, do aumento dos ritmos de trabalho, etc. A actual crise, porém, parece mostrar que essas contra-tendências não surtem o efeito pretendido. Com efeito, os ritmos de acumulação do capital a nível global estão em queda. Chegou o capitalismo a um ponto em que a recuperação dos ritmos de crescimento já não é possível? É esta a questão a que responde o texto seguinte de Fred Goldstein (*).

“A mudança que as novas tecnologias causam na composição orgânica do capital é o ponto mais importante para desenvolvimento da crise histórica do capitalismo, por oposição às suas crises cíclicas.
Marx desenvolveu a questão em O Capital quando tratou da Lei Geral da Acumulação Capitalista. Ele mostra como o aumento da produtividade do trabalho através de contínuas revoluções tecnológicas faz crescer a composição orgânica do capital. O aumento do capital constante em relação ao capital variável reduz progressivamente a necessidade de força de trabalho por parte dos capitalistas. E isto expande inevitavelmente o exército de reserva que são os desempregados.

Em períodos anteriores, o capitalismo foi capaz de contrariar este tendência expandindo a produção o suficiente para trazer de volta ao trabalho as massas de trabalhadores despedidos na sequência de uma quebra económica ou de uma crise cíclica. O capitalismo tem sido capaz de absorver não apenas esses trabalhadores que tinham sido despedidos na fase de declínio mas também de acrescentar novos trabalhadores à força de trabalho.
Mas a produtividade do trabalho atingiu presentemente um tão alto nível que este processo já não é viável. Por isso digo que o capitalismo se encontra num beco sem saída.

A tendência de queda da taxa de lucro é o que conduz os capitalistas a melhorias tecnológicas e a aumentar a produtividade do trabalho. Os capitalistas lutam uns contra os outros e também contra a classe operária precisamente incrementando a produtividade do trabalho. É isto que provoca o aumento da composição orgânica do capital e faz crescer o exército de reserva dos desempregados. Por este processo, chega-se a um ponto em que a expansão capitalista já não pode absorver esse exército de reserva, e também não o pode impedir de crescer. Os fundamentos do capitalismo entram em decadência. E as bases da revolução começam a ganhar forma. É este o ponto em que estamos hoje.

Marx explica os factores que contrariam a tendência de queda da taxa de lucro. Mas ele não diz que esses factores possam travar o processo. Ele apenas diz que esses factores explicam por que razão o declínio da taxa de lucro não é tão rápido como o aumento da produtividade do trabalho. Aqueles factores apenas abrandam a queda da taxa de lucro, mas não a param nem a invertem no longo prazo.
Esta tendência histórica é comprovada pelo enorme crescimento da produtividade do trabalho, pelo aumento enorme do valor do capital constante em relação com o capital variável e pela subida permanente do desemprego que presentemente se tornou parte integrante deste novo estádio do capitalismo.
Estamos a testemunhar, de forma viva, a confirmação das teorias que Marx avançou em O Capital. Cabe-nos retirar as devidas conclusões revolucionárias e compreender o potencial revolucionário do período em que estamos a entrar e fazer uso dessas armas para pôr fim ao capitalismo.”

(*) Autor de “O capitalismo num beco sem saída”, colaborador do jornal Workers World.


Comentários dos leitores

antonito 8/2/2013, 15:31

Há que ter também em conta que a superprodução gera a crise, o que se passa na forma de produção de mercado livre na sociedade capitalista. Este aspecto tem sido pouco referido.
Saudações comunistas e de classe revolucionária

afonsomanuelgonçalves 14/2/2013, 16:15

Todavia o desemprego continuará a subir em flecha enquanto não se reduzir o horário de trabalho e os trabalhadores não se libertarem das garras do capitalismo pesporrente. A manterrem-se estas premissas a decadência do capitalismo conduz, também, necessariamente à decadência e degenerescência das classes trabalhadoras.


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