Eles celebram um “herói”

Carlos Completo — 30 Janeiro 2013

Morreu Jaime Neves. Os partidos da burguesia, figuras destacadas das classes exploradoras e gente da extrema-direita, incluindo fascistas, têm sido unânimes nos encómios a um dos grandes “heróis” da direita portuguesa. Com a intensa luta de massas, a ampla democracia popular e de bases (que então se ensaiava) e o poder dual (mesmo com forças diferentes) que seguiu ao 25 de Abril de 1974, a burguesia não podia governar e explorar como pretendia. Foi neste contexto que Jaime Neves, juntamente com Ramalho Eanes, militares do Grupo dos Nove e gente dos partidos do chamado arco governativo – PS, PSD e CDS, avançaram com o golpe reaccionário do 25 de Novembro de 1975. Golpe que havia de conduzir ao regime que hoje explora e oprime as classes trabalhadoras e o povo português.

Como era de esperar, Paulo Portas, líder do CDS, afirmou logo que Jaime Neves “fez muito pela democracia em Portugal”. E Passos Coelho, Aguiar Branco e Matos Correia, do PSD, destacaram “a referência”, “o respeito” e o seu papel “na consolidação da democracia portuguesa”, em 25 de Novembro de 1975.

Do PS, João Soares salientou o papel de destaque deste general dos Comandos, sobretudo no 25 de Novembro de 1975, mas, também, o facto de ele ter sido “um combatente de primeira categoria na guerra do ultramar”. Talvez, a par do seu amigo Savimbi. Aliás, já em 1995, o pai, o então Presidente da República Mário Soares, condecorava Jaime Neves com a medalha de Grande-Oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Por outro lado, o general Loureiro dos Santos considerou que: “Jaime Neves foi um militar de coragem, temerário e um comandante de excepção, sobretudo em combate. Teve uma intensa actividade operacional, sobretudo nas guerras em África, onde se destacou por ser um comandante de excepção. Teve uma vida de combatente”. E não deixou, obviamente, de referir o importante papel de Jaime Neves no golpe militar de 25 de Novembro de 1975.

Também Cavaco Silva, actual Presidente da República e um dos homens de mão do capital, que em 2009 promovera Jaime Neves a major-general, enviou uma mensagem de condolências à família deste oficial considerando-o “um exemplo inspirador de dedicação ao país” e um lutador pela liberdade em Portugal.

E Ramalho Eanes, outro “herói” de Novembro e um dos promotores de Jaime Neves a general, não podia faltar nos encómios. Aliás, há poucos meses, aquando do lançamento da biografia de Jaime Neves, Ramalho Eanes afirmava “Jaime Neves foi – com Alpoim Calvão –, em minha opinião, o melhor combatente da nossa geração de oficiais”.

É a esta gente que continuaremos entregues, com o cortejo de espoliações e sofrimentos nossos, se as classes trabalhadoras e o povo não forem capazes de, unidos e solidamente organizados, escorraçá-la definitivamente do poder.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 7/2/2013, 19:31

Para completar o apoio explícito dos "bravos militares de Abril", convém recordar que Jaime Neves, depois de ter sido saneado em Assembleia de Soldados do Quartel da Amadora, foi garbosamente reconduzido no seu posto de Comandante pelo então Chefe do Copcon, General Otelo S. de Carvalho.


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