Potências da NATO não olham a meios para anexar a Síria

Il manifesto / MV — 13 Janeiro 2013

Dizendo-se “profundamente preocupados com a escalada de violência” que ameaça transformar o conflito sírio numa guerra regional, há quem reclame “o fim de todas as formas de violência armada”. Quem são estes pacifistas? Os membros do Grupo de Acção para a Síria, que reuniu em Genebra a 30 de Junho e emitiu um comunicado de encerramento com tais declarações.
Liderando o coro pacifista estão os Estados Unidos. Na realidade, são eles o maestro da operação de guerra em curso, que, depois de destruir o Estado líbio no ano passado, está agora a tentar desmantelar a Síria. Agentes da CIA, escreve o New York Times, que operam clandestinamente no sul da Turquia, estão a recrutar e a armar grupos que combatem o governo sírio.

Através de uma rede clandestina transfronteiriça, em que a Mossad israelita também opera, tais grupos recebem armas automáticas, munições, foguetes antitanque e explosivos. Com um vídeo no YouTube, mostram que sabem como usá-los: a explosão de uma poderosa bomba de controle remoto destrói um camião civil ao passar por uma loja.

A Turquia também manifestou a sua “oposição à militarização do conflito”, que deve ser “resolvido por meio do diálogo pacífico”. Mas a Turquia fornece o centro de comando em Istambul que dirige a operação, e as bases militares em que os grupos armados são treinados antes de se infiltrarem na Síria.

Além disso, a Turquia, com o pretexto de a Síria ter abatido um avião militar turco – que voava a baixa altitude ao longo da costa da Síria para sondar as suas defesas anti-aéreas – está agora a concentrar tropas na fronteira, ameaçando com uma intervenção “defensiva”. Isso poderia provocar um ataque em grande escala da NATO nos termos do artigo 5 do tratado (*), tirado da gaveta para a ocasião, enquanto um não-artigo 5 foi utilizado para o ataque contra a Líbia.

Outros membros do grupo – França, Grã-Bretanha, Arábia Saudita e Qatar – clamam estar “empenhadas em defender a soberania, independência, unidade nacional e integridade territorial da Síria”. Mas são estas forças que estão agora a levar a efeito na Síria a mesma operação realizada na Líbia: treinar e armar o “Exército Livre Sírio” e cerca de outros 100 grupos recrutados em vários países, cujos membros são pagos pela Arábia Saudita. Essas forças usam também militantes islâmicos reaccionários e inteiros grupos armados islâmicos, anteriormente marcados como terroristas perigosos, e infiltram forças especiais na Síria, como as que o Qatar enviou no ano passado para a Líbia, disfarçados como grupos de oposição interna.

Os membros do Grupo de Acção que agora exigem “liberdade de movimento em todo o país para os jornalistas” são os mesmos que manipularam fotografias ao liderar uma implacável campanha mediática em todo o mundo para culpar o governo sírio por todos os massacres. Essa mesma gente organizou o ataque terrorista que matou três jornalistas sírios quando um grupo armado atacou a Televisão-al-Ekhbaria em Damasco, atingindo-a com rockets e fazendo-a ir pelos ares.

As potências ocidentais, ao activarem a sua máquina de guerra, já decidiram anexar a Síria ao seu império. É por isso que gostariam de fazer ir pelos ares também as garantias da Rússia e da China, outros dos membros do Grupo de Acção, de que nenhuma força estrangeira deve tomar decisões que só dizem respeito ao povo sírio.

(*) O artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte diz que um ataque armado contra um ou vários dos membros da NATO será considerado um ataque a todos os seus membros, legitimando assim o emprego da força armada por parte da Aliança.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 14/1/2013, 16:12

Eu, que faço parte da brigada sexagenária vermelha do reumático de Abril, reconheço que muitas das análises e observações revolucionárias desse período estão completamente fora do tempo. Uma tremenda confusão ideológica provocada pela traição revisionista e pela ideologia pequena-burguesa levou duas ou três gerações a vaguearem pela mais diversas correntes dita marxistas-leninistas, esquecendo obviamente o fundamental: a táctica e a estratégia «leninista» e a ideologia revolucionária, sempre em movimento, para se adaptar às novas condições materiaias da existência social. O revisionismo prevaleceu em Portugal e na Grécia. Nos outros países europeus o descalabro social-democrata aliado ao imperialismo americano fez o que olhe competia: reduziu o proletariado a uma máquina biológica para lhe extorquir a mais valia a troco de meia dúzia de conquilhas. Agora na agonia do capital sem recurso ao trabalho, recorre-se a todas as guerras e artimanhas para chegar ao fim na glória do seu objectivo; O proletariado será sempre o escravo sobre o qual depositam as suas fezes.


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