Nuno Santos, Luís Castro e Ana Pitas – tudo boa gente

Pedro Goulart — 29 Novembro 2012

Ainda a propósito da manifestação de 14 de Novembro, que terminou com uma brutal carga policial, sabe-se que o inquérito interno da RTP concluiu que Nuno Santos (director de informação da estação) teria autorizado que “a PSP visionasse as imagens num sítio discreto que não no Arquivo”. E agora também se ficou a saber que dois elementos pertencentes a uma unidade secreta da PSP estiveram no gabinete de Luís Castro, subdirector da RTP (e com a presença de alguns membros da Direcção de Informação), a visualizar as imagens captadas durante a manifestação.

Mais, e posteriormente – a solicitação do comissário João Pestana, que requereu imagens “de preferência não editadas” da manifestação, e que serviriam para usar “como meio de prova dos actos classificados como crime” – , Ana Pitas, subdirectora de produção da RTP, pediu ao departamento de planeamento a gravação em DVD das imagens das câmaras das várias equipas que tinham estado junto ao Parlamento. Só isto já é bastante mau, independentemente de outras responsabilidades ou intenções enviesadas que se venham aqui eventualmente a apurar.

E pelos vistos, tudo levado a cabo à margem das leis vigentes, elaboradas pelas próprias classes dominantes e aplicadas pelos seus servidores.

Claro que, em referência a este tema, é fácil compreender a posição dos mais directos mandatários do capital: Cavaco Silva louvou o “profissionalismo” da polícia, Miguel Macedo atribuiu os acontecimentos a “meia dúzia de profissionais da desordem” e António José Seguro afirmou “parece-me que a polícia agiu de forma adequada”. Afinal, eles estão apenas a desempenhar o seu papel!

É bom saber e útil denunciar, a título exemplar, casos como estes, pois não são apenas os governantes e os seus partidos os responsáveis e cúmplices das criminosas actuações das polícias e do patronato. No aparelho de estado, nas empresas e na comunicação social há sempre um conjunto de lacaios que os apoia.
Porém, e a não esquecer também, ainda a propósito desta manifestação, houve outros, à esquerda, que rapidamente souberam demarcar-se dos “desordeiros”, mas se calaram quanto à brutal e indiscriminada intervenção da polícia. Esta é mais uma marca da sua efectiva integração no actual regime.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 30/11/2012, 11:28

Não constitui qualquer surpresa estes comportamentos pidescos dos subalternos do poder. Num período de crise para o Estado burguês o aparelho tem que estar afinado sem falhas nem descuidos nos pormenores. As leis vigentes que não previram estas circunstâncias penosas dão lugar ao livre arbítrio dos pequenos tiranetes. Isto é apenas o começo da nova era que atravessamos e bem podemos esperar por novas medidas de repressão. O chamado Estado de Direito que é o Direito burguês e não direito em abstracto porque ele não existe, bem pode ser reclamado pelas instituições de oposição ao governo que isso não o afecta em nada, além de que essa oposição é necesária ao regime para manter a sua máscara democrática. E neste domínio cada qual compreende muito bem o seu papel assim como os seus limites na actuação.

leonor 1/12/2012, 12:45

E o Bloco de Esquerda levou 2 - dois - 2 dias a tomar posição sobre a violência no dia da greve geral em S. Bento - mas é só sobre as ilegalidades nas detenções e evocando as queixas da Ordem dos Advogados e da Amnistia Internacional. Um simples pedido de explicação formal e parlamentar. Nem uma condenação da violência gratuita e brutal da polícia sobre uma multidão pacífica. Nem um apelo à calma, nem uma crítica, nem um reparo... Isto é que é oposição?
veja-se esta peça de hipocrisia:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kXG1_vtoorE

Lemos 15/12/2012, 16:52

Não sei se já viram este vídeo.
Imagens do provocador da polícia
http://www.dailymotion.com/video/xvxqi3_agente-infiltrado_news#.UMxxbddlX85


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