O sr. Jonathan Winer e os donos do mundo

Carlos Completo — 17 Agosto 2012

Joana Lopes e Diana Andringa, indignadas com as declarações ao Expresso de um ex-vice-secretário de Estado adjunto do tempo de Bill Clinton, Jonathan Winer (*), a propósito da decisão judicial de não extradição por Portugal de George Wright, apresentaram no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa uma queixa-crime contra este ex-dirigente norte-americano.
As razões desta queixa estão na exposição ao Procurador Geral da República onde, entre outras coisas, se pode ler:

1. No passado dia 14 de Julho, o semanário “Expresso” publicou um artigo com o título “EUA querem foragido mesmo à força” que, tendo como motivo a decisão judicial de não extradição por Portugal de George Wright, dá conta do interesse e dos esforços desenvolvidos por algumas entidades e personalidades norte-americanas com vista a fazê-lo comparecer perante as autoridades judiciárias dos EUA.

2. Entre outras individualidades, o mencionado artigo cita, em discurso directo, Jonathan Winer … como tendo dito que, se as autoridades portuguesas não revissem a sua posição de não entregar George Wright aos EUA, haveria a possibilidade de recurso a “uma operação como as que durante a era Bush foram chamadas «extraordinary renditions» (detenção extrajudicial em voos da CIA).”

3. O mesmo Jonathan Winer diz também que em caso de recusa portuguesa em proceder à entrega pretendida haveria que: “(…) estabelecer uma recompensa pela entrega de Wright às autoridades americanas”.

4. Mais adiante, e a perguntas do jornalista autor da entrevista, o já citado Jonathan Winer, afirma: “Se ele (George Wright) estivesse no Paquistão, com o seu passado e o seu comportamento, teria um dia destes um drone (avião não tripulado usado em assassínios selectivos de suspeitos de terrorismo) a voar sobre a sua cabeça.”

Breves notas:

Lembramos que a referida entrevista ao Expresso veio na sequência das declarações de algumas personalidades dos EUA numa comissão que pretende contrariar a decisão de não extradição de George Wright, tendo então Hillary Clinton, secretária de estado de Obama e uma dos responsáveis pelas guerras na Líbia e na Síria, manifestado acordo com os objectivos desta comissão. O que mais uma vez veio mostrar como republicanos e democratas norte-americanos estão de acordo no essencial quanto às políticas a seguir.

Salientamos, também, que tais declarações já haviam sido objecto de protesto da Associação Contra a Exclusão pelo Desenvolvimento (ACED), da Associação Portuguesa para a Prevenção da Tortura (APPT) e do Grupo de Intervenção nas prisões (GIP).

Na caixa de comentários de um dos blogues que divulga esta queixa-crime de Joana Lopes e Diana Andringa, aparece um conjunto de comentários de indivíduos sem espinha dorsal, boçais e reaccionários, fãs do imperialismo norte-americano e dos guerreiros Jonathan Winer e George Bush, vomitando uma série de alarvidades contra as autoras da queixa-crime e contra George Wright. Um sinal claro de que os filhos e esteios do fascismo andam por aí.

A queixa-crime agora apresentada, sendo uma manifestação de indignação contra aqueles que não respeitam os outros povos e países (coisa há muito habitual nos EUA), também serve para alertar alguns portugueses mais distraídos sobre a forma de pensar dos “democratas norte-americanos. Mas a queixa talvez acabe por passar uns quantos anos nas gavetas de uma Procuradoria que, ao cabo de vários anos, ainda não foi capaz de encontrar os corrompidos portugueses, correspondentes a alguns corruptores que, no conhecido casos dos submarinos, já foram condenados na Alemanha.

(*) O sr. J. Winer é actualmente director da APCO, uma firma de consultadoria sediada em Washington especializada, entre outras coisas, em gestão de crises, relações governamentais e lobbying. Colabora num comité do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais dedicado às Ameaças Internacionais. É especialista em contra-terrorismo. Foi louvado em 1999 pela secretária de Estado Madeleine Allbright pelo seu trabalho no Departamento de Estado e concretamente “por ter criado a capacidade do Departamento de Estado e do governo dos EUA para lidarem com o crime internacional e com a justiça criminal como importantes funções da política externa” norte-americana. Desempenhou o cargo de vice-secretário de Estado adjunto para a aplicação do direito internacional (!). (Fonte: site da APCO)


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