Os mitos patronais e a crua realidade

20 Março 2012

As confederações patronais parecem querer inaugurar um novo discurso: “Não falemos de crise, falemos do futuro”. Concordante, o ministro das Finanças procura animar a malta com prognósticos de recuperação económica para 2013.
Mas a realidade vai-se impondo: a Peugeot-Citroën de Mangualde encerrou um turno de laboração e mandou para a rua 350 trabalhadores de uma assentada; a Carris vai reduzir as carreiras e com isso despede 100 motoristas (além de aumentar os passes sociais); a construtora Soares da Costa foi autorizada pelo governo a despedir 940 trabalhadores (mesmo depois de ter ultrapassado o limite legal para o efeito); a privatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo põe em risco os seus 600 trabalhadores; no Arsenal do Alfeite, praticamente inactivo, teme-se igualmente pelos postos de trabalho; dezenas de milhares de empregados da indústria hoteleira e de operários da construção civil estão ameaçados de despedimento por falência das empresas.
Esta é a realidade que o discurso dos patrões e do governo não pode mudar, mas quer disfarçar.

A propaganda patronal e governamental assenta em mitos: que é necessário cumprir à risca as imposições da troika para “sermos credíveis”; que depois do “equilíbrio orçamental” virá o crescimento económico; e que o crescimento trará emprego. Como quem diz aos trabalhadores: aguentem só mais um bocadinho.

Ora, o programa da troika apenas visa garantir o pagamentos das dívidas aos bancos alemães e franceses e baixar de forma duradoura os custos da força de trabalho. Depois, não está à vista nenhuma recuperação económica europeia ou mundial, de que o capitalismo português depende em absoluto; e a destruição dos sectores produtivos causada pelos cortes orçamentais ainda agrava mais a questão. Por fim, mesmo que houvesse uma retoma económica ela seria muito débil e sempre conseguida à custa da redução da mão de obra empregada e de salários degradados.

O objectivo daqueles mitos é claro: manter os trabalhadores submissos, dissuadi-los de defenderem os seus interesses, impedi-los de enfrentarem as classes dominantes e de rejeitarem a rapina a que estão sujeitos. Reerguer a luta contra o capital é a única maneira de estancar a ofensiva. É o que cabe às lutas nas empresas e à próxima greve geral, no dia 22 de Março.


Comentários dos leitores

A. Poeiras 21/3/2012, 9:47

A rapina continua e vai acentuar-se: já se avista o Partenon... e o défice triplicou em Fevereiro (contas oficiais) relativamente ao ano passado!
O programa claramente ideológico em curso visa intencionalmente destruir qualquer resquício de "estado social", qualquer mecanismo de protecção que não seja controlado pela banca e pelas seguradoras.

J.M.Luz 21/3/2012, 10:11

Concordo inteiramente com o artigo, mas sabendo o MV que a actual direcção do movimento laboral e popular tem uma politica inconsequente, reformista, que limita a luta dos trabalhadores apenas ao quadro da "renegociação" da dita divida, na perspectiva de moderar as medidas de austeridade e anti-laborais, mas que de todo não impede a ofensiva capitalista e que por isso mesmo não tem condições politicas para satisfazer os objectivos politicos que o MV aponta, assim pergunta-se:
Que propostas politicas e orgânicas sugere o MV, para "reeguer a luta contra o capital (como) única maneira de estancar a ofensiva"?


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