Os efeitos da guerra suja no Iraque

Cristina Meneses — 15 Março 2012

Por ocasião do 9.º aniversário da invasão do Iraque pela coligação liderada pelos EUA, o Tribunal-Iraque (Audiência Portuguesa) organiza, no próximo dia 17 de Março, uma sessão pública no Centro Arte e Recreio, em Guimarães – Capital Europeia da Cultura.
Dois resistentes iraquianos, Mundher Adhami e Haifa Zangana, apresentarão depoimentos sobre o assassinato de professores e cientistas iraquianos e sobre os efeitos do uso de armas proibidas pelos ocupantes. Eis alguns dados referentes aos crimes de guerra cometidos nos últimos nove anos que serão debatidos na sessão de Guimarães.

O número de iraquianos mortos desde 2003 ultrapassou um milhão. O desaparecimento de civis aumentou de 375 mil em 2003 para um milhão em 2008 de acordo com a Cruz Vermelha Internacional. Raptos, tortura e assassinatos tornaram-se norma durante a ocupação. De mesmo modo que as tropas dos EUA, empresas de segurança privada a seu soldo gozam de imunidade no sistema legal iraquiano de acordo com a Order 17 da Autoridade Provisória da Coligação. Sem qualquer respeito pela vida humana, soldados e seguranças, em acção conjunta, abrem fogo sobre homens, mulheres e crianças que considerem como ameaças. Os iraquianos, pouco importa o género ou a idade, no dizer de um soldado norte-americano, “não são pessoas, sabe; é como se não fossem humanos”.

O Reino Unido só admitiu o uso de urânio empobrecido em Julho 2010. “As forças do Reino Unido utilizaram cerca de 1,9 toneladas de munições de urânio empobrecido na guerra do Iraque em 2003”, disse o secretário da Defesa Liam Fox na Câmara dos Comuns. Mais de 40 locais por todo o Iraque estão contaminados com altos níveis de radiação e dioxinas. E, enquanto Fox referiu que o Ministério da Defesa facultou ao Programa Ambiental das Nações Unidas as coordenadas dos alvos atacados com armas de urânio empobrecido, os EUA continuam a recusar-se a declarar os tipos, locais e quantidade de armas utilizadas.

Estudos recentes confirmam os efeitos de longo prazo do urânio empobrecido e do fósforo branco que foram utilizados durante o bárbaro ataque dos EUA à cidade de Faluja, em 2004. Tal como confirmam o crescimento das taxas de cancro e de malformações congénitas nos últimos cinco anos em comunidades próximas das cidades de Najaf e Bassorá.
Para além do Iraque, este tipo de materiais foi utilizado pelos EUA pelo menos contra a Jugoslávia e recentemente contra a Líbia.

O uso de urânio empobrecido e outros materiais provocam permanente contaminação radioactiva e destruição ambiental que resultam num grande crescimento de cancros e malformações congénitas depois dos ataques. Estes efeitos irão aumentar ao longo do tempo e com resultados ainda desconhecidos, em consequência da exposição crónica a que o território e as populações ficam sujeitos.

Para proibir o seu uso – tal como o de outras armas nucleares ou novas gerações de armas como o fósforo branco ou o napalm – é importante entender os motivos políticos e económicos que estão por detrás da sua utilização e mobilizar para o efeito uma opinião pública informada e disposta a tomar posição. É esse o propósito do Tribunal-Iraque.


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