Austeridade mata

Pedro Goulart — 14 Março 2012

O aumento anormal da taxa de mortalidade em Fevereiro teve, certamente, outras razões para além da gripe e do intenso frio que se fez sentir neste mês. O Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA) salientou que em duas semanas (na terceira e quarta de Fevereiro) houve mais de 6000 mortos, número muito superior (mais 1000 óbitos) à média verificada nesta altura do ano. E a Associação de Médicos de Saúde Pública afirmou recear que a subida das taxas moderadoras, o aumento das despesas com medicamentos e o agravamento da situação económica das famílias pudessem igualmente ser responsáveis pelo excesso de mortalidade.

Por outro lado, a Direcção Geral de Saúde admitiu estar preocupada com a subida da mortalidade prematura. Segundo os últimos dados disponíveis, um em cada quatro portugueses morre antes de chegar aos 70 anos. As principais causas destas mortes são as doenças crónicas não transmissíveis, nomeadamente os problemas respiratórios, os acidentes cardiovasculares, as diabetes e o cancro. Mas estas doenças agravaram-se e esse agravamento não será alheio às medidas de austeridade que têm vindo a ser impostas às classes trabalhadoras e aos pobres. Por exemplo, com a electricidade mais cara (IVA que subiu de 6% para 23%) e as pessoas poupando nos aquecedores, com as casas mal aquecidas, não restam dúvidas que estamos aqui perante um importante factor de mortalidade, particularmente dos mais idosos.

Alguns responsáveis do Serviço Nacional de Saúde, incluindo o secretário de estado da respectiva pasta, tentaram “desdramatizar” estes elevados números da mortalidade. Talvez para evitar que sejam atribuídas parte das responsabilidades à corja que governa o país. Mas, face à realidade, e independentemente de posteriores análises mais aprofundadas da situação, é de presumir que, além da gripe e do excesso de frio, a má alimentação e uma maior dificuldade no acesso aos cuidados de saúde, assim como habitações fracamente aquecidas, tenham pesado bastante numa maior fragilização dos idosos pertencentes às classes trabalhadoras e aos pobres. E que, consequentemente, tenham estado na origem de uma maior taxa de mortalidade destas camadas da população. Por tudo isto, podemos afirmar, com forte probabilidade de acerto, que esta brutal austeridade, imposta pela troika e pelos partidos do capital, já está a matar em Portugal.


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