Editorial
Só lutando
3 Fevereiro 2012
Contra todos os anúncios do governo e dos propagandistas da situação, nem 2012 será o final da crise, nem 2013 o início da “recuperação”. Quem desconfiasse das vozes oficiais, já o sabia; mas agora são os próprios a dizê-lo.
Os oráculos do grande capital europeu dizem à boca cheia que Portugal não conseguirá cumprir o plano da troika e que vai precisar de novo “acordo” – significando isso medidas ainda mais brutais contra os assalariados.
Em consonância, o Banco de Portugal prevê uma profunda recessão e desemprego recorde, confirmando o caminho sem retorno do capitalismo português numa Europa em declínio e sugerindo o meio do costume: mais “austeridade”.
O governo admite que o défice teima em não baixar e, pelo processo da “fuga de informações”, sonda a reacção da opinião pública a novas penalizações sobre o trabalho.
Grandes patrões que pregavam as virtudes da poupança e culpavam os assalariados de serem gastadores inveterados, falam agora em rever as condições negociadas com a troika, duvidam da permanência do país no euro e tratam de colocar os seus capitais a salvo.
Os apaniguados do poder correm para a manjedoura das grandes empresas públicas e privadas, para enriquecerem depressa e alisarem o caminho a mais privatizações de bens públicos.
Neste ambiente de catástrofe, o governo e os patrões compraram, sem custos, o voto da UGT à mesa da famigerada Concertação Social, para que o assalto aos bolsos dos trabalhadores passe por ser coisa consentida.
À margem dos intermináveis debates, supostamente “políticos”, travados no parlamento ou nos meios de comunicação, o dia a dia dos trabalhadores torna-se um inferno, em regra mantido sob silêncio. Soares da Costa, Edifer, Salvador Caetano, Cerâmica Valadares, empresas portuárias e de transportes são apenas alguns exemplos recentes de despedimentos em massa e de salários em atraso, sem que nenhum patrão seja condenado por isso. Não é só empobrecimento: é a miséria.
O capital desencadeou uma guerra de classe contra os assalariados. Isto exige dos assalariados nada menos do que uma guerra de classe contra o capital. O movimento laboral, com destaque para o movimento sindical, precisa de uma capacidade de resistência acrescida, em número de lutas e em dureza – ao nível das medidas de terror que desabam sobre os trabalhadores. Só o medo pode fazer recuar os patrões e o governo.