A EDP, as nomeações e o governo

Pedro Goulart — 19 Janeiro 2012

tachos.jpgA polémica suscitada pelas recentes nomeações para os órgãos dirigentes da CGD, EDP e Águas de Portugal, que encheu os próprios média do regime, revela bastante daquilo que é a absoluta falta de vergonha dos dirigentes políticos burgueses quanto à “honestidade” das suas promessas e dos objectivos que dizem prosseguir. Os que quiseram acreditar em Passos Coelho e no PSD, assim como aqueles que geralmente amocham perante as ofensivas do patronato, têm aí bem à vista o tipo de sociedade que estes políticos defendem e a espécie de gente que realmente são.

Com a venda de 21% do capital da EDP à empresa chinesa Three Gorges, parte importante do estratégico sector energético português passou para as mãos de grandes grupos económicos estrangeiros. De salientar que, em 2010, o montante dos negócios do grupo EDP ultrapassava já os 14 mil milhões de euros e que o valor dos seus activos líquidos atingia os cerca de 40 mil milhões.

Na sequência desta venda, causou forte escândalo, pela evidente troca de favores, a presença entre os 23 elementos do novo Conselho Geral e de Supervisão da EDP de alguns nomes, nomeadamente: Eduardo Catroga (responsável pelo programa eleitoral do PSD e representante de Passos Coelho nas negociações com a troika), Paulo Teixeira Pinto (já reformado do BCP, por incapacidade e que então recebeu uma indemnização de milhões), Ilídio de Pinho (ex-patrão de Passos Coelho), Jorge Braga de Macedo (ex-ministro de Cavaco Silva) e Celeste Cardona (CDS, que até o próprio Catroga não vê justificação para ela lá estar).

Mas idêntica falta de vergonha (de quem, em promessas eleitorais, afirmava a pés juntos não procurar jobs for the boys), já anteriormente se verificara na CGD, com as nomeações de Nogueira Leite (PSD) e Nuno Thomaz (CDS), e, posteriormente, se viria a verificar nas Águas de Portugal, com as nomeações de Manuel Frexes (PSD) e Álvaro Castelo Branco (CDS).
Esta polémica, embora e em geral, não extravasando as fronteiras do regime, tem, contudo, interesse pedagógico para as classes trabalhadoras e para o povo, na medida em que mostra bem a “honestidade” das promessas e pretensões dos políticos burgueses.

Por outro lado, as consequências económicas de tais políticas são pesadas. Por exemplo, no que respeita aos vários milhões a despender com estes senhores do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, verifica-se que apenas um deles, Eduardo Catroga, o indigitado presidente, terá um salário de 45 mil euros mensais (correspondente a 90 salários mínimos), que irá acumular com uma reforma, igualmente mensal, de 9.600 euros. Também o futuro presidente do Conselho de Administração Executiva da EDP, António Mexia, pode vir a receber nos seus três anos de mandato, incluindo os prémios, cerca de 4 milhões de euros. Como é bom de ver, tudo isto a ser pago pelos trabalhadores e consumidores!


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