Ministro Miguel Macedo mete os pés pelas mãos

Carlos Completo — 22 Dezembro 2011

miguelmacedo.jpgGeralmente os ministros das polícias dizem desconhecer os abusos e crimes praticados pelos seus subordinados e procuram fazer-se passar por cidadãos éticos e democratas. Mas a crescente degradação da situação económica e social das classes trabalhadoras não vai facilitar a tarefa de branqueamento ao actual Ministro da Administração Interna. Miguel Macedo, que já anteriormente, em entrevista a José Rodrigues dos Santos na RTP, elogiara a actuação da PSP no dia da greve geral de 24 de Novembro, considerando-a “competente e contida”, veio depois à TVI 24, após o escândalo dos infiltrados e provocadores, procurar dourar a pílula em relação ao comportamento policial.

Entrevistado por Paulo Magalhães e confrontado com anteriores declarações da PSP, disse:

Paulo Magalhães: Então a polícia, o comandante da PSP, falou cedo demais quando falou no tal cidadão alemão procurado pela Interpol, que aparentemente foi libertado no dia seguinte?
Miguel Macedo: Esse, esse, essa situação vem relatada, nesse, nesse, nessa discriminação dos factos que terão ocorrido nesse dia.
Paulo Magalhães: Então falou cedo demais, o relações públicas da PSP?
Miguel Macedo: Não. Nas informações que eu tenho não posso considerar isso.
Paulo Magalhães: Isto aparentemente não corresponde à verdade. Este tal cidadão alemão não é procurado pela Interpol.
Miguel Macedo: Sim, mas julgo que ninguém disse que era procurado pela Interpol.
Paulo Magalhães: Foi dito logo a seguir pela…
Miguel Macedo: Não julgo que… não sei exactamente qual é a declaração, mas quero dizer que não é essa a referencia que eu tenho.

Miguel Macedo mentiu, meteu os pés pelas mãos, mas seguiu em frente. E prosseguiu teimosamente a sua cruzada em defesa da vídeo-vigilância, com uma imposição legislativa que atribui ao ministro da Administração Interna o poder absoluto de decidir sobre a instalação e adequação destes sistemas de vigilância em espaços públicos, eliminando, assim, alguns incómodos pareceres vinculativos da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD). Decisão tomada, contra os pareceres da Ordem dos Advogados, do Conselho Superior do Ministério Público e da própria CNPD, que consideram a nova legislação violadora dos direitos fundamentais consagrados na Constituição.

Mais, o mesmo governo que diz querer um Estado pequeno, reduzido nas suas funções, menos gastador, que corta nas “gorduras” em vários sectores do Estado, nomeadamente na saúde, no ensino e na segurança social, liberta, entretanto, pelas mãos de Miguel Macedo e Vítor Gaspar, as suas “forças de segurança” dos respectivos cortes no OE para 2012. Por aqui também se pode ver a defesa intransigente dos seus interesses de classe, a hipocrisia e a canalhice dos governantes, pois enquanto se diz não haver dinheiro para sectores essenciais à vida de quem é explorado, o dinheiro logo aparece quando se trata de proteger os patrões e as classes dirigentes. Pois eles sabem bem que o aparelho repressivo do Estado é essencial à manutenção da (sua) ordem capitalista vigente.


Comentários dos leitores

c a heitor da silva 30/12/2011, 22:42

No auto-designado estado de Direito é frequente que seja o próprio governo a desrespeitar as suas próprias leis como forma de impor os meios de que necessita para fazer valer e defender os seus interesses de classe.
A questão é que os doutos constitucionalistas que se supõe deverem actuar em defesa dos princípios que instituiram e dizem defender não actuam em conformidade abdicando assim do seu estatuto de defensores para passarem a ser eles mesmos violadores de tais princípios que se são outorgantes.
É que isto de defender os seus interesses de classe tem as suas coisas...


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