Uma guerra no bloco central e o papel do Serviço de Informações

Pedro Goulart — 5 Agosto 2011

espioes.jpgJorge Silva Carvalho, ex-director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), foi acusado pelo Expresso de ter enviado informações para a Ongoing, quando ainda era responsável das “secretas”. E parece ter continuado a recebê-las mesmo após a sua saída daquele Serviço de Informações. Saliente-se que a Ongoing é a empresa em cujos quadros o espião Silva Carvalho viria a ingressar pouco depois de ter abandonado o SIED e que este caso só foi tornado público na sequência da guerra gerada pela não aceitação, à última hora, de Bernardo Bairrão como secretário de Estado do governo de Passos Coelho.

Também, a este respeito, o ex-director do SIED reconheceu, em entrevista ao DN, que o Serviço de Informações elabora relatórios sobre diversas empresas estratégicas e admitiu ter então enviado de sua casa e-mails para a empresa Ongoing. Afirmou ainda que, apesar de não se considerar um “menino do coro”, não violara nem o dever de sigilo nem segredos de Estado. Acontece que Silva Carvalho quanto mais se explica mais se afunda. Ao pensar no seu caso, ficamos com uma nítida imagem de mais um exemplar daqueles personagens do bloco central, muitas vezes membros de associações secretas, que circulam, com bastante proveito económico, entre as polícias, o aparelho de Estado e a administração de algumas empresas.

Uma coisa é evidente nesta questão: há uma guerra feroz, que passa pelo interior do chamado bloco central, envolvendo interesses não convergentes de dois grupos económicos – a Impresa, de Balsemão, que inclui o Expresso e a SIC, e a Ongoing (dona do Diário Económico), de Nuno Vasconcelos, Jorge Silva Carvalho e José Eduardo Moniz. Conflito que também atinge as próprias “secretas”. E, para se perceber algumas das razões desta guerra, é de referir que a Ongoing já tentou comprar a TVI, controlar a SIC e tem interesse numa eventual privatização da RTP. Privatização que, por receio de concorrência, Pinto Balsemão combate tenazmente.

Daqui se retiram algumas ilações: as classes exploradoras e os seus homens de mão, além de sugarem a mais-valia dos trabalhadores, reservam parte do valor espoliado para espiar e reprimir os próprios trabalhadores (e os militantes políticos, particularmente os não integráveis no sistema). E, como se acaba de ver, também usam parte dos dinheiros do aparelho de Estado para as suas guerras internas de classe burguesa. Não é por acaso que os capitalistas ditos liberais, quando insistem na necessidade de “emagrecer” o Estado, geralmente não incluem nesse emagrecimento os corpos policiais e militares, assim como o aparelho judicial. Porque estes corpos e aparelhos são-lhes, na actual sociedade, indispensáveis tanto para manter a ordem burguesa como para defender os seus interesses de classe.


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