Terrorismo de Estado

Manuel Garcia Morales / MV — 12 Julho 2011

rumoagaza3.jpgProsseguimos a publicação dos relatos enviados por Manuel Garcia Morales, sindicalista e activista político, que integra segunda Frota da Liberdade com destino a Gaza, fundeada em Atenas. Depois de ter noticiado os dois dias de greve geral na Grécia e os impedimentos levantados à partida da Frota, Manuel Garcia dá conta de mais uma saboagem e da colaboração das autoridades gregas com o governo de Israel. É o que nos diz nas mensagens de 1 de Julho.

1 de Julho

Mais um barco sabotado

Ontem soubemos da sabotagem de outro dos barcos da Frota, o irlandês Saoirse (Liberdade). Isto mostra que os serviços secretos israelitas estão dispostos a tudo. Os 12 barcos iniciais da Frota estão em diferentes portos do Mediterrâneo. O barco grego foi sabotado na Grécia e o irlandês estava na Turquia. O ataque foi semelhante: danificaram o eixo da hélice por baixo do casco.
Admitimos que a sabotagem na Grécia contou com a aceitação tácita do governo grego que não piou diante de um ataque feito num porto seu. Mas a sabotagem num porto turco mostra que o governo israelita está disposto a qualquer acção terrorista em qualquer pais do mundo.
O ministro irlandês dos Negócios Estrangeiros fez umas declarações duras contra o governo de Israel, sugerindo que o acto não lhe sairá gratuito. Mas o governo turco, surpreendentemente, manteve-se em silêncio, o que pode significar que, depois conflito diplomático do ano passado em consequência do ataque ao navio Mavi Marmara, está a tentar nos bastidores recompor as tradicionais boas relações com Israel.
O Mavi Marmara também ia viajar nesta segunda Frota mas à última hora a ONG turca titular do barco alegou que era prioritário atender à crise humanitária na Síria.
A realidade porém é que o terrorismo de Estado campeia sob o silêncio cúmplice dos grandes meios de comunicação e dos organismos internacionais.
Os sectores mais reaccionários da direira norte-americana pediram publicamente aos israelitas que disparem sem contemplações sobre os activistas norte-americanos da Frota e reclamam a Obama que os prenda por apoiarem o “terrorismo palestino”.
Ontem de manhã fomos à embaixada espanhola entregar um pedido para que defenda o nosso direito de livre circulação, já que o governo grego continua a levantar barreiras burocráticas tão absurdas como a de haver erros ortográficos na carta de navegação do barco.
No caminho para a embaixada passámos pelos cenários mais violentos da greve geral. Da “destruição” praticada pelos “violentos manifestantes” apenas o McDonald’s tinhas danos consideráveis, mas ainda se sentiam os olhos a arder pelos restos de gás pimenta de véspera.
Pela imprensa grega confirma-se o que já se sabia: que houve provocadores policiais entre os manifestantes (gravados em muitos vídeos) e que a actuação da polícia foi brutal. Amigos jornalistas contaram-nos cenas que presenciaram de pessoas cercadas pela polícia a serem espancadas gratuitamente e de conversas entre polícias que se vangloriavam dos tiros e pontapés que deram aos manifestantes.
Foi um triunfo efémero, porque nessa mesma tarde assistimos a uma grande concentração na Praça Sintagma de milhares de pessoas (algumas delas mostrando ferimentos em resultado da repressão da véspera) gritando “polícia assassina”, “greve geral” e “democracia verdadeira já”.
Ali estava de novo o povo ateniense rodeando o parlamento grego que, por sua vez, estava rodeado por um impressionante cordão policial. Uns defendendo o grande capital, outros defendendo a verdadeira democracia.

O governo grego cobre-se de vergonha

Depois de ter visto como o governo grego (do partido “socialista”) maltratava o seu povo, vemos agora como faz o trabalho sujo para o governo sionista de Israel. Cerca da 2 da tarde o ministro da Proecção Civil, Chistos Paputsis, redigiu uma ordem em que proibiu a saída de barcos com bandeiras gregas ou estrangeiras para a área marítima de Gaza.
Em consequência, a marinha de guerra grega abordou, a duas mihas da costa, o barco norte-americano da Frota, “A Audácia da Esperança”, que tinha partido de Atenas às 4 da tarde, trazendo-o de volta ao porto. Desta maneira, os comandos israelitas não terão de sujar as mãos na operação ilegal de deter barcos de solidariedade que navegam legalmente no Mediterrâneo. O trabalho sujo foi subcontratado ao governo grego e não sabemos se isto fará parte do plano de choque de privatizações para conseguir dinheiro com que pagar os juros aos bancos alemães e franceses.
Terão de nos deter a todos. A coordenadora da Frota decidiu seguir em frente. Vou para Creta onde está o nosso barco Gernika com quese todos os passageiros a bordo.
Esta manhã, tivemos um encontro com a policia grega à porta da embaixada dos EUA. A delegação dos EUA decidiu fazer uma concentração para protestar contra as dificuldades levantadas pelo governo grego. As demais delegações acompanharam e apoiaram os norte-americanos. Levantámos bandeiras palestinas, cartazes de solidariedade com Gaza e os norte-americanos bandeiras do seu pais (foi a primeira vez que não senti urticária por ter uma bandeira dessas perto de mim).
Os polícias gregos antidistúrbios vieram dispersar-nos não sem que tenhamos oposto a resistência que era possível. Foi depois desta acção que a delegação dos EUA decidiu fazer-se ao mar.

Saudações fraternais,
Manolo Garcia

(mais notícias no site www.rumboagaza.org)


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