O primeiro dia de greve geral na Grécia

Manuel Garcia Morales / MV — 6 Julho 2011

rumoagaza2.jpgUm grupo de 50 pessoas de todo o estado espanhol partiu no dia 22 de Junho de Madrid para Atenas onde se integrará na segunda Frota da Liberdade com destino a Gaza. Do grupo faz parte um amigo do Mudar de Vida, Manuel Garcia Morales, sindicalista e activista político, que se propõe enviar regularmente crónicas da viagem. Estamos a publicar os seus relatos à medida que nos chegam.
Nesta mensagem, de 28 de Junho, ainda em Atenas, é dada conta do primeiro dia de greve geral na Grécia e de uma sabotagem no barco grego.


28 de Junho

Manifestações contra a austeridade
Hoje é o primeiro dia da greve geral na Grécia. Saí cedo para a rua para ver o ambiente. Deparei com o que me tinham contado os companheiros daqui. A ideia de greve é diferente do de Espanha. O que importa são os manifestantes que vão participar nas manifestações convocadas. Não há piquetes de greve para encerrar os pequenos comércios e bares. Por isso, se fosse um turista despistado, não saberia que hoje há greve geral porque tudo aparenta normalidade.

A primeira manifestação está convocada, pelo Partido Comunista e organizações a ele ligadas, para as 10 da manhã. Sinapismo, que é o outro partido de inspiração comunista (configurado de forma parecida com a Izquierda Unida), e outras forças sociais começaram a manifestação ao meio-dia. Logicamente também participam os principais sindicatos que são os que convocam a greve geral.
No fim, toda a gente vai confluir na Praça do Parlamento (onde continua a “acampada” do 15M daqui). No Parlamento será votado na quinta-feira [dia 30] o novo plano de austeridade. Amanhã contar-vos-ei as impressões acerca das manifestações, que parece que vão ser duras.

Ontem de manhã demos uma conferência de imprensa, no centro internacional de imprensa de Atenas, em que falaram representantes da Frota de vários países – Grécia, EUA, Suécia, Israel, Canadá, França, Espanha, Palestina, Turquia. Incluíam prémios Nobel de literatura, professores, músicos, advogados, filósofos, militares norte-americanos e de Israel tornados pacifistas.
Eram, sobretudo, representantes de um profundo humanismo e generosidade, lutadores decididos a pugnar pela paz, a igualdade e o direito dos povos. Santiago Alba, porta-voz do barco de Espanha, o Gernika, leu em inglês o texto, muito breve e emotivo, que junto em baixo.

Sabotagem do barco grego
Quanto ao mais, duas novidades de ontem. A primeira, a mais negativa, é que o barco grego foi sabotado, no porto do Pireu. Danificaram a barra de direcção. Os companheiros vão tentar repará-la a contra-relógio para poder navegar na quinta-feira. Isto mostra que, se as pressões políticas não bastarem para impedir a saída a Frota, os serviços secretos dos países que sabemos vão tentar outros métodos para o conseguir.

A segunda é que a nossa ministra dos Negócios Estrangeiros se reuniu ontem com os grupos parlamentares que apoiam a Frota: Izquierda Unida, ICV, Bloco Nacional Galego. Comunicou-lhes que está em contacto com as autoridades de Israel, que está preocupada connosco, ainda que não possa fazer nada para garantir a nossa segurança, mas que pediu “contenção” a essas autoridades, e que além disso formou um comité de crise para seguir os acontecimentos.

Segue o texto lido por Santiago Alba Rico.

Saudações fraternais,
Manolo Garcia

Um exército de democracia verdadeira
O plano é muito simples: queremos navegar livremente em águas livres para levar a seres humanos livres a nossa solidariedade. Queremos defender as leis do mar, as leis humanitárias, os princípios das Nações Unidas, o direito internacional, os mais elementares valores da justiça humana. Queremos fazer uma carícia ao mundo. Queremos dar uma prenda. Queremos fazer saber a um povo ferido que não está só. Queremos defender o nosso direito de ir a Gaza; o direito dos de Gaza a receber-nos; o direito em geral, como regra de entendimento contra a violência, a ocupação e a guerra.

A Frota da Liberdade é uma carícia. E que uma carícia desperte tanta agressividade e tanto nervosismo, que seja vista como ameaçadora ou provocatória, já de si diz muito acerca do estado do nosso mundo. A Frota da Liberdade é, além disso, uma embaixada democrática, digamos, da verdadeira comunidade internacional. A maior parte da população do planeta apoia os valores e os propósitos desta viagem; e que um exército de democracia verdadeira provoque tanta resistência nos governos dos EUA e da União Europeia diz muito também sobre o estado da democracia neste mundo. Se houver que escolher entre a justiça e Israel, entre a razão e Israel, entre o direito e Israel, entre a segurança dos nossos cidadãos e Israel, a escolha dos que dizem representar-nos é clara.

Por isso, queremos exigir aos nossos governos que escutem a voz dos seus povos, que obedeçam ao mandato das leis internacionais, que actuem em conformidade com os princípios que dizem defender e que garantam, em consequência, o cumprimento da nossa missão, a integridade física dos seus participantes e a aplicação de uma nova política internacional orientada para assegurar os direitos do povo palestino e de todos os povos do mundo.

Santiago Alba Rico

(mais notícias no site www.rumboagaza.org)


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