Algo novo na forja

4 Julho 2011

O movimento dos “indignados” em Espanha mobilizou, desde Maio, milhares de pessoas, não apenas jovens. O poder tem-no tratado com cautela. Por um lado, porque hostilizá-lo pode dar-lhe ainda mais adeptos; por outro, porque gostaria de fazer dele um concorrente do movimento laboral.
O mesmo por cá, como se viu com o apoio dado ao protesto da geração à rasca, uma semana antes da manifestação sindical de 19 de Março.
Percebe-se: verdadeiramente explosiva seria a junção do movimento laboral com a indignação das camadas jovens. Mas é esse o caminho para que a luta social tenha sucesso.

Não faltam conselhos para que os protestos dos jovens se situem nas margens da ordem, não contestem por grosso o regime político ou o sistema económico, e aceitem “negociar” com o poder – como propõe o candidato a líder do PS espanhol (actual ministro das polícias), lançando o isco de uma reforma… do sistema eleitoral.
São tentativas de explorar fraquezas do movimento: débil estrutura, mistura de interesses de classe, falta de experiência política. Mas, até ver, as razões dos “indignados” são mais fortes que tudo isso: o desemprego crónico, a falta de perspectivas de vida, a noção crescente de que o capitalismo não tem melhor a dar, e a evidência de que o poder político está ao serviço deste estado de coisas.
Por isso a manifestação de Madrid de 19 de Junho arvorava o lema “Caminhemos juntos contra a crise e o capital”. Por isso 84% dos espanhóis dá razão aos jovens e afirma que eles levantam os reais problemas da população. Por isso a central sindical Comisiones Obreras a apoiou.

Estes movimentos são um primeiro sinal de mudança. Massas de jovens até há pouco alheios à política lançam-se contra o sistema social; desrespeitam as convenções com que o poder procura resguardar-se; esboçam acções de âmbito internacional. Algo de novo está na forja.


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