Urânio empobrecido: as armas que não ousam dizer o seu nome

David Wilson, Stop the War Coalition / MV — 6 Maio 2011

natokillers.jpg“O mísseis com ogivas de urânio empobrecido (DU) encaixam perfeitamente na descrição de bomba suja… Eu diria que é arma perfeita para matar montes de gente” (Marion Falk, físico-química, Laboratório Lawrence Livermore, Califórnia, EUA)

Nas primeiras 24 horas do ataque à Líbia, aviões norte-americanos B-2 despejaram 45 bombas de mil quilos. Não sabemos se estas bombas, mais os mísseis Cruzeiro lançados dos aviões e navios franceses e britânicos, contêm ogivas de DU. Mas se a prova passada do seu uso pelas forças militares dos EUA e Reino Unido serve de guia, pode muito bem acontecer que essas armas façam parte do bombardeio que a Líbia está a sofrer.

O DU é um detrito do processo de enriquecimento do minério de urânio. É usado em armas nucleares e em reactores. Por ser uma substância muito pesada (1,7 vezes mais densa que o chumbo), é muito valorizado pelos militares pela capacidade que tem de atravessar veículos blindados e edifícios. Quando uma arma com ogiva de DU atinge um objecto maciço, como o exterior de um tanque, atravessa-o e estoira numa nuvem de vapor. O vapor assenta na forma de poeira que é não só venenosa mas também radioactiva.

Efeitos a prazo

No impacto, um míssil de DU arde a 10 mil graus centígrados. Quando atinge um alvo, 30% fragmenta-se em pedaços. Os restantes 70% vaporizam-se em três óxidos altamente tóxicos, incluindo o óxido de urânio. Esta poeira negra fica suspensa no ar e, conforme o vento e o clima, pode viajar a grandes distâncias. Se acharem que o Iraque e a Líbia ficam muito longe, lembrem-se que a radiação de Chernobil atingiu o País de Gales.

Partículas com menos de 5 mícrons de diâmetro são facilmente inaladas e podem permanecer nos pulmões ou outros órgãos durante anos. No corpo, o DU pode causar danos no fígado, cancros nos pulmões e ossos, perturbações de pele, perturbações cognitivas, alterações de cromossomas, síndromes de imunodeficiência e doenças raras dos rins e intestinos. As mulheres grávidas expostas ao DU podem dar à luz a crianças com deficiências genéticas. Depois da poeira vaporizada não se espere que o problema desapareça rapidamente. Como emissor de partículas alfa, o DU tem uma semi-vida de 4,5 mil milhões de anos.

O caso do Iraque

No ataque ao Iraque “Choque e pavor”, só em Bagdad foram lançados mais de 1500 mísseis e bombas. Seymor Hersh afirmou que só o Third Marine Aircraft Wing dos EUA lançou mais de “500 mil toneladas de artilharia”. Todas elas com ogivas de DU.

A Al-Jazira noticiou que as forças invasoras dos EUA dispararam 200 toneladas de material radioactivo contra edifícios, habitações, ruas e jardins de Bagdad. Um repórter do Christian Science Monitor levou um contador Geiger para locais da cidade que tinham sido sujeitas a severos bombardeamentos por tropas dos EUA. Encontrou níveis de radiação 1000 a 1900 vezes maiores do que o normal para áreas residenciais. Para uma população de 26 milhões, os EUA lançaram uma bomba de uma tonelada por cada 52 iraquianos ou 20 quilos de explosivos por pessoa.

Negócio de milhões

Nas primeiras 24 horas do ataque dos EUA e seus aliados foi lançada sobre a Líbia artilharia no valor de 115 milhões de euros. Muita dela, sem dúvida, destruiu armamento e instalações militares vendidas à Líbia pelos mesmos países que agora a bombardeiam. O relatório de controlo de armas da União Europeia diz que os estados membros passaram licenças em 2009 para venda de armas e equipamento militar à Líbia no valor de mais de 330 milhões de euros. A Grã-Bretanha passou licenças a empresas de armamento para venda de 25 milhões de euros de armas e foi igualmente paga pelo coronel Gadafi para enviar as SAS (forças especiais) para treinar a sua 32.ª Brigada.

Forte suspeita

No Iraque, é amplamente reconhecido (mas não pelos governos ou pelos militares) que houve uso extensivo de armamento radioactivo, como DU. Isto é provado de forma irrefutável pelo imenso crescimento do número de crianças nascidas com defeitos genéticos e de pessoas que contraem cancros e outras doenças. Esperamos que, no caso da Líbia, o silêncio que todos os governos guardam acerca deste assunto signifique que não foram usadas armas de DU.

Mas a tragédia é que só o podermos saber anos após os bombardeamentos, como o povo de Faluja, no Iraque, está agora a descobrir através das horríveis consequências do bombardeamento da cidade, em 2004, com armas de DU e de fósforo branco.


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