Revolta popular alastra a todo o mundo árabe

Manuel Raposo — 23 Fevereiro 2011

tunisia1.jpg“A Europa não tem nada a ganhar com a instabilidade no Mediterrâneo”. Assim resumiu o embaixador Martins da Cruz (TSF, 17 Fevereiro) a posição do imperialismo europeu, e também norte-americano, sobre as revoltas que varrem o mundo árabe. Compreende-se: todos os regimes abalados, sem excepção, são “amigos”, de longa ou fresca data, da União Europeia e dos EUA. Razões da amizade: o gás natural, o petróleo e as vantagens estratégicas. Nada a ganhar, portanto.

Mas, contrariando as previsões de todos os “especialistas de assuntos internacionais”, o certo é que as manifestações continuam a alastrar e a mostrar uma inesperada disposição de luta não de pequenos grupos, mas de massas de milhares de pessoas, que enfrentam inclusive a repressão mais brutal.
Depois das primeiras escaramuças na Argélia, a revolta tunisina deitou a baixo o regime de Ben Ali e as manifestações no Egipto derrubaram Mubarak. O contágio atingiu o Iémen, a Líbia, o Barém (que acolhe a 5.ª esquadra dos EUA, polícia do Índico e do Médio Oriente) e o Iraque, registando-se já muitos dias de protestos e dezenas de mortos. Também na Jordânia, Argélia, Marrocos e Síria tem havido acções de protesto.

A força desta onda está no facto de mobilizar milhares de pessoas (incluindo jovens e mulheres) em cada país, e de constituir uma frente de luta muito ampla, que já tocou dez dos vinte e dois países árabes e que pode alastrar a muitos mais se tomarmos em conta os traços comuns da situação da maioria deles.

Nessa força dos protestos há que encontrar a razão das presentes cautelas dos EUA e da UE. Depois de uma primeira reacção de apoio aos regimes lacaios, europeus e norte-americanos acharam melhor aceitar transições “ordeiras”, para não perderem o pé e poderem controlar as mudanças.
Receiam que a resistência dos velhos regimes gere uma reacção mais extremada e leve a alterações radicais de poder nos países atingidos. Receiam que o alastramento da revolta a mais países ponha em causa a sua influência e os seus interesses na região, nomeadamente o acesso às fontes de energia e o trânsito no canal de Suez, por onde passam 8 a 10% do valor do comércio mundial. Receiam que uma convulsão social no norte de África e no Médio Oriente altere os equilíbrios que têm protegido Israel.

O desenlace vai ser ditado pela força da luta de massas que está em curso. Cabe-nos apoiá-la e desejar, como Guevara disse a propósito do Vietname, que floresçam um, dois, três Egiptos, Tunísias, Baréns, Iraques.


Comentários dos leitores

A CHISPA ! 23/2/2011, 22:26

Talvez a melhor forma de apoiarmos as lutas dos povos do Norte de África e Médio Oriente seja convocar vários encontros onde se possa discutir a solidariedade a prestar e como dessas experiências podemos tirar conclusões para a nossa situação concreta.
Um abraço
A Chispa!


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