A que se deve o interesse pela Índia?

Rahul Menezes — 28 Dezembro 2010

sarkozy_singh.jpgEm apenas dois meses, Novembro e Dezembro deste ano, a Índia recebeu a visita dos mais altos dirigentes das principais potências mundiais. Depois do presidente dos EUA, em Novembro, seguiram-se o presidente francês em começo de Dezembro e, em meados do mês, o primeiro-ministro chinês e o presidente russo. Se recuarmos até Julho, há ainda a somar o primeiro-ministro britânico.
Em qualquer dos casos, as agendas estavam preenchidas com vultuosas propostas de acordos comerciais, de venda de centrais nucleares e de armamento – tudo sustentado em promessas de apoio à pretensão da Índia de vir a ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. O que torna a Índia tão interessante?

Esta corrida das grandes potências para ganhar os favores da Índia deve-se a razões comerciais mas não só.
Os acordos são sem dúvida de grande importância, sobretudo para as potências capitalistas do ocidente, a braços com uma terrível crise de negócios. Mas o propósito de todos os contactos estabelecidos é igualmente o de fazer da Índia um parceiro político e estratégico.

Um dos dois gigantes mundiais

A Índia tem uma população superior a 1 100 milhões de pessoas. O seu crescimento económico, apesar de oscilar, situou-se nos últimos três anos (em plena crise do capitalismo mundial) sempre acima dos 6% ao ano, ultrapassando por vezes os 9%.
A par de ser um grande produtor de bens de consumo corrente, a Índia possui tecnologia automóvel, informática, nuclear e espacial o que faz dela uma grande potência industrial. Se o poder de compra da maioria da população é baixo, em contrapartida as suas classes dominantes e o seu capitalismo em expansão são grandes consumidores de produtos e tecnologia ocidental.

O outro lado do interesse pela Índia resulta de ela estar a tornar-se, tal como a China, uma das maiores potências económicas do mundo das próximas décadas. Aos capitalismos europeu e norte-americano interessa que os dois gigantes asiáticos não estejam do mesmo lado. Como lhes interessa igualmente afastar a Índia da Rússia, quebrando a ligação que vem dos tempos da URSS – ligação esta responsável, por exemplo, pelo predomínio nas forças armadas indianas de armamento de origem russa.

Interesse a Ocidente

Foi por esse motivo que os EUA desenvolveram nas últimas décadas relações privilegiadas com a Índia, nomeadamente no domínio militar. Contra o que manda o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (que a Índia não assinou) os EUA forneceram à Índia armamento atómico e estabeleceram com ela estreita colaboração militar que passa pelo estacionamento de frotas de guerra e por manobras militares. Ter no Índico um aliado e uma base de apoio militar é decisivo para o propósito perseguido pelos EUA de montar um cerco militar à China e à Rússia.

Na sua visita relâmpago, o presidente francês Sarkozy actuou com um despacho impressionante, a ponto de a imprensa indiana classificar a França como “a mais pragmática potência da Europa”. Se o pragmatismo se mede pelo volume e pela natureza dos negócios firmados, Sarkozy bem fez por merecer o título. Pondo de lado quaisquer reticências sobre as questões do nuclear e dos armamentos, os homens de negócios franceses assinaram em quatro dias acordos no montante de 13,3 mil milhões de euros: 7 para duas centrais nucleares; 2 para desenvolvimento de mísseis; 1,5 para fornecimento de aviões militares Mirage; e 2,8 para compra de aviões comerciais à Airbus.

Com esta ofensiva oriental de Sarkozy é não só a França mas também a União Europeia que procuram recuperar o tempo perdido – não apenas quanto aos negócios mas também quanto ao propósito de ocupar um lugar de importância estratégica no mundo das próximas décadas, procurando chamar a si os favores indianos.

Interesse a Oriente

No outro lado do xadrez, Rússia e China não deixam os seus créditos por mãos alheias. O presidente russo Medvedev carregou na bagagem, além do incremento do comércio, acordos visando investigação conjunta nos sectores nuclear e militar e colaboração na exploração petrolífera na Sibéria. Mas foi o primeiro-ministro chinês que levou a palma a todos os demais, fazendo-se acompanhar por uma delegação de mais de 400 homens de negócios e firmando acordos no valor de mais de 15 mil milhões de euros.

Para se entender a importância da disputa no domínio estratégico e das alianças, importa lembrar que foi constituída em 2001 a Organização de Cooperação de Xangai, reunindo a China, a Rússia e mais quatro países da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão) – e que a Índia dela faz parte como observador. Começando por ter objectivos de segurança mútua, a OCX alargou sucessivamente a cooperação entre os seus membros aos domínios da economia, finança, transportes, energia, telecomunicações, cultura, negócios estrangeiros, a ponto de se tornar um fórum representativo de metade da população do Planeta (entre países membros e observadores) e de abranger das mais vastas áreas de cooperação de todas as organizações multinacionais existentes.
Ora, fontes do governo indiano manifestaram, justamente em 2010, o interesse da Índia em passar a membro permanente da OCX, não sendo esta vontade alheia ao interesse em beneficiar dos recursos energéticos dos países da região que integram a organização.

Não admira, pois, também por isto, que a Índia continue a ser, nos tempos próximos, destino de muitos líderes e alvo de generosas propostas de cooperação.


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