Iraque, Afeganistão, NATO

Manuel Raposo — 2 Outubro 2010

iraquecrianca.jpgA recente retirada do grosso das tropas norte-americanas do Iraque deve ser vista por dois lados: a situação do Iraque e a situação no Afeganistão. De facto as duas guerras estão estreitamente relacionadas, tanto por serem ambas made in USA, como pelo facto (é bom não esquecer) de Obama ter feito do Afeganistão a sua “guerra justa”.

A questão do Iraque não fica resolvida com esta retirada. Desde logo, porque continuam no território 50 mil tropas, com funções de garantir a permanência do governo fantoche e servir de força de recurso se as coisas descambarem. Depois, porque o rasto de destruição e de crimes cometidos nos mais de sete anos de guerra não se apaga – e as indemnizações que são devidas pelos EUA não podem passar à história. Depois ainda, porque o Iraque não voltou a ser um país independente e soberano. E finalmente porque, enquanto os EUA teimarem em excluir as forças da Resistência Iraquiana de uma solução política, o país não terá sossego.

O Afeganistão é o outro atoleiro do imperialismo norte-americano. E é, neste caso também, um atoleiro da NATO, envolvida até ao pescoço na contenda ao lado dos EUA. Tal como no Iraque, a guerra está perdida e a saída das tropas ocupantes é a única medida sensata. Mas por cada dia mais que por lá permanecerem, só cresce o sofrimento das populações e só se degrada mais a situação do país. Abreviar a guerra significa portanto apoiar a resistência afegã e pugnar pela derrota dos EUA e dos seus aliados.

Mas há ainda um outro lado da questão que importa referir.
A doutrina militar dos EUA que enquadrou os assaltos ao Iraque e ao Afeganistão estabelecia que as suas forças armadas deviam estar preparadas para travar vitoriosamente duas guerras ao mesmo tempo. Neste sentido, as derrotas no Iraque e no Afeganistão representam um revés estratégico para os EUA. Talvez por isso, a nova doutrina, já da era Obama, estabelece que os EUA devem estar preparados para enfrentar múltiplo desafios em todo o Globo – com o apoio de aliados, o primeiro dos quais é a União Europeia.

Ora, é no âmbito da NATO – reforçada e alargada – que os EUA pretendem agora constituir o aparato militar e policial que lhes permita estender a todo o Planeta os seus tentáculos; e obter assim a força que lhes faltou no Iraque e no Afeganistão. A nova linha estratégica para a NATO, a ser discutida em Novembro na cimeira de Lisboa, é justamente uma transposição para a Aliança Atlântica dos propósitos agressivos do imperialismo norte-americano.
Se for aprovada, e se for seguida, significará um maior envolvimento dos países membros nas aventuras militares dos EUA, uma maior cumplicidade com os crimes que forem cometidos e um maior dispêndio de verbas em tropas e armamento.


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