Trabalhadores europeus, uni-vos!

Urbano de Campos — 29 Setembro 2010

bandeiras-vermelhas-maria-vieira-silva.jpgOs números que temos vindo a publicar sobre o aumento dos despedimentos em Portugal retratam a razia sem precedentes que se verifica no emprego. O mesmo acontece em Espanha, com valores ainda mais altos. E o mesmo também na Europa e nos EUA.
Espanha e Portugal ocupam o primeiro e o quarto lugar deste desgraçado ranking europeu com mais de 20% e 11% de desempregados, respectivamente. Na média, o valor passa dos 18% para o conjunto da Península, ou seja mais de 5,3 milhões de pessoas.
Simultaneamente, na grande maioria dos países afectados, o desemprego continua a crescer a par de uma (apesar de débil) recuperação económica – o que aponta para uma conclusão óbvia: a recuperação dos negócios capitalistas está a fazer-se à custa da eliminação de postos de trabalho.

O facto não é inteiramente novo, na medida em que a recuperação das crises capitalistas sempre redundou numa diminuição da força de trabalho empregue – na lógica inerente ao sistema de reduzir o trabalho vivo através de meios de produção mais rentáveis. Mas há em todo o caso uma realidade nova: não está a verificar-se uma absorção, mesmo parcial, dos desempregados, como acontecia em fases de crescimento económico após as crises; pelo contrário, o desemprego aumenta ao mesmo tempo que se dá a recuperação.

A conferência realizada no início de Setembro, em Oslo, para debater as questões da recuperação económica e do emprego (uma sintomática parceria entre o FMI e a Organização Internacional do Trabalho!), não fez mais, em boa verdade, que reconhecer os factos acima apontados e tentar moralizar sobre a situação.

As declarações que, pelo caminho, os responsáveis fizeram, a começar pelo director do FMI Strauss-Kahn, denunciam em todo o caso o pânico e a inoperância que atinge as sumidades mundiais. “A crise não vai parar”, “o mercado de trabalho está em situação catastrófica”, “esta crise não é como as demais” – são algumas das constatações feitas.

Diante destes factos, nenhumas medidas dignas de crédito foram tomadas; tudo se limitou a apontar “a necessidade” de criar 440 milhões de novos empregos na próxima década e a lançar o voto piedoso de que “recuperação sem criação de emprego não é recuperação”.

Contra isto fala a realidade. Só nos últimos três anos, 30 milhões de postos de trabalho foram aniquilados em todo o mundo, elevando o desemprego para 210 milhões, dos quais 20 milhões na Europa. Entretanto, os lucros das principais empresas (e não só da finança) crescem mesmo quando há baixa do volume de negócios; em muitos casos crescem tanto o volume de negócios como os lucros – sempre com um denominador comum: a redução drástica de postos de trabalho. O que significa aumento da exploração da força de trabalho. Compreende-se – o capitalismo não é uma máquina de produzir emprego, mas de produzir lucro.

Os responsáveis mundiais reunidos em Oslo sabem bem que a recuperação só se fará se for à custa do emprego. O que os preocupa são, por um lado, as possíveis consequências sociais do desemprego maciço; e, por outro lado, os efeitos a prazo na economia decorrentes da diminuição do poder de compra, em resultado do desemprego – ou seja, uma nova crise mais violenta ainda.

A resposta dos trabalhadores a esta situação não passa, dados os factos, por criar ilusões sobre uma “recuperação económica com criação de emprego” – porque essa não é a realidade. Passa sim por dar uma resposta, segundo os seus interesses de classe, que empurre os custos da crise para cima do capital. Tem, por isso mesmo, sentido contrariar a lógica patronal exigindo trabalho para todos e redução dos horários laborais sem redução de salários. Significa isso lutar contra o aumento da exploração da força de trabalho que está em curso.

Essa é uma das principais exigências que está em causa nas lutas que vão travar-se hoje, 29 de Setembro, em diversos países europeus. Aqui e em toda a Europa. Saibam os trabalhadores de todos os países europeus unir-se em volta de reivindicações de classe comuns e outro galo cantará no respeitante à tão falada saída da crise.


Comentários dos leitores

A CHISPA ! 30/9/2010, 16:59

Não deixamos de concordar com este texto, no entanto é necessário aprofundar a análise e desmascarar os partidos da esquerda do sistema capitalista assentes na Assembleia da Republica, quando propõem medidas económicas de apoio ao desenvolvimento das pequenas e médias empresas (entre as quais uma,que exige uma taxa fiscal extraordinária, apenas para as empresas que estejam acima dos 50 milhões de lucro por ano,o que quer dizer que todo o universo de pequenos e médios capitalistas, ficariam isentos do pagamento desta taxa), com o argumento demagógico de criação do pleno emprego que a serem tomados em conta, provocariam exactamente os mesmos efeitos.
Como não basta denunciar,gostariamos de saber o que em termos concretos de organização e mobilização dos trabalhadores o M/V tem a propôr.
Saudações
"achispavermelha.blogspot.com"
A CHISPA!

Manuel Baptista 3/10/2010, 21:04

A quem aproveitam as medidas de austeridade?
The European Central Bank (ECB) lends at a very low rate, about 1.5%, to the banks. But the ECB cannot lend to the states. Only the banks can do that.
The most fragile states, think of Greece, but also Portugal, have to borrow from the international banks at a high interest rate, to cover their budget deficit.
So, the rate from the banks to the Portuguese State is now currently about 6.5%, this means some 5% net profit for such credit operations!
This is how the EU is re-capitalizing the banks and finance, the culprits for the 2008 crash, and they have no contemplation for the people whatsoever.
There's a huge smoke curtain that hides these simple truths!
Let's write in a clear and concise way, the logic from such doings, so that people understand the true face of these policies: against workers and even against the productive sectors of the capitalist class, just to put back afloat the financial capitalism and the stock exchange speculation!
How to make their plans go wrong?
The state cooptation of union bureaucrats is making this huge class struggle the most difficult to unfold. We have weak symbolic mobilizations only, instead of a pre-revolutionary situation.
Most people making a general strike day do it without illusions that it will stop anything the states and capitalist class from EU may decide.
In Portugal a 24 h. general strike was decided by the most powerful Union Confederation (CGTP), and invited the other (UGT) to join them. But this general strike is announced to the next 24th November, and at this moment the «austerity budget» will be long passed by the parliament, a scenario that is being pushed by the right wing socialist government and party, with support of the main rightwing party (called PSD= partido social democrata, but the name doesn’t match the fact it’s a fully conservative liberal party, he is member of the same EU parliamentary group as the Tories and other conservative parties) and the Portuguese President, who is the (non-executive) leader of this PSD party.
O controlo da classe trabalhadora e dos muitos militantes de base, pelas burocracias sindicais, é quase absoluto em Portugal, onde não existe tradição de sindicalismo de base.
A alternativa será lutar... MAS dentro dos sindicatos que temos, por muito amarelos que sejam.
Mas para isso, os revolucionários têm de perder o complexo isolacionista; só têm a ganhar em se filiarem e construírem núcleos sindicais de base, com outros trabalhadores nos sindicatos «mainstream».
O complexo isolacionista tem dado zero resultados práticos mas tem sido a ilusão de algumas pessoas bem intencionadas.
A questão é esta: temos de partir as fuças dos capitalistas, mas o martelo (os sindicatos) está na mão de quem nos traiu desde há longa data. Como pegar nesse instrumento de luta (não destruindo o mesmo) e simultaneamente colocar a classe trabalhadora em condição de dar A RIPOSTA QUE SE IMPÕE?
Solidariedade,
MB


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