O próximo estafeta
A inflexão política do PSD
Manuel Raposo — 13 Julho 2010
Com Passos Coelho à cabeça, o PSD fez uma inflexão política. Em vez de tentar demolir o governo a golpes de escândalos, acertou agulhas com o PS, fazendo, por fora, a sua rábula de oposição.
Tenta ganhar em dois tabuleiros: levar por diante a política que o patronato quer ver aplicada; e alijar responsabilidades diante do eleitorado afectado pelas medidas.
Para o PSD, a questão de fundo permanece: o PS de Sócrates roubou-lhe espaço de manobra ao pôr em prática, sem rebuço, o que o patronato queria. Mas há agora uma diferença importante: o descrédito do PS perante o eleitorado (os trabalhadores pelo que estão a sofrer, os que vivem à custa dos trabalhadores por exigirem ainda mais) permite ao PSD colocar-se na posição de próximo estafeta para receber o testemunho das mãos do PS. Não admira, pois, que as últimas sondagens de opinião – limitadas à opção de saber quem estará mais apto a formar governo – invertam as posições entre PS e PSD.
Não que as sondagens sejam uma radiografia exacta das posições das diversas classes, mas são sinal de que o povo não encontrou ainda saída para os males que o afectam. Por isso, tudo parece resumir-se à escolha de saltar da frigideira para cair no lume.
A saída, porém, existe. Passa por entender que PS e PSD formam agora um bloco de poder, um com funções governativas directas, outro com funções de apoio. Passa por rejeitar a ideia de um suposto “interesse geral”, em nome do qual os trabalhadores teriam de sacrificar-se. Passa por colocar na linha da frente as exigências que servem os trabalhadores: trabalho para todos, combate à pobreza e à quebra do nível de vida, mais justiça social em vez de polícia (e de militares a apoiar polícias), acção de massas para travar o ataque capitalista.