Centrais sindicais convocam greve geral para 29 de Setembro

Urbano de Campos — 4 Julho 2010

huelga-general-euskadi.jpgAs centrais sindicais espanholas Comisiones Obreras (CCOO) e UGT convocaram uma greve geral para final de Setembro. A decisão põe termo a um processo de negociações – sobre a revisão da legislação laboral – com as organizações patronais e com o governo que se saldou em nada. Com efeito, o patronato, escudado no apoio pleno do governo, recusou qualquer acordo e deu assim o pretexto para que o executivo de Zapatero alterasse a lei por decreto, com o argumento de que o governo decidiria na ausência de entendimento entre as partes. Entretanto, no dia 29 de Junho, teve lugar uma greve geral no País Basco e os trabalhadores do metro de Madrid pararam a cem por cento.

Desconcertação social

Nas ditas negociações, que se arrastaram por meses, o patronato deixou patente que o seu objectivo era tornar mais fácil e mais barato o despedimento. Ao mesmo tempo, recusou sempre colocar limites à contratação a prazo, procurando ganhar poder discricionário nas empresas, como acusam as CCOO.

O governo de Zapatero, na prática, sabotou as negociações, ausentando-se delas e ameaçando com a publicação unilateral da nova lei, como acabou por fazer, no caso de patrões e sindicatos “não chegarem a acordo”. Ao patronato – seguro de que teria a reforma da lei laboral que pretendia – bastou arrastar a conversação, negar-se a quaisquer cedências e criar o cenário de “rompimento” das negociações sem entendimento.

As CCOO acusam o decreto de “se fazer eco das exigências empresariais” que levaram à ruptura das negociações, designadamente por facilitar e tornar mais barato o despedimento, impulsionar o crescimento do trabalho temporário e pôr em risco a negociação colectiva ao conferir poder discricionário às empresas em detrimento dos direitos dos trabalhadores.

A central sindical considera que este decreto confirma a alteração que o governo vem praticando nas políticas económicas e sociais cuja primeira expressão foi o Plano de Austeridade, seguido do Plano de Ajuste que congelou as pensões, baixou os salários dos funcionários públicos, adiou a aplicação da lei de apoio às pessoas dependentes e reduziu consideravelmente o investimento público.

Para além destas medidas, o governo de Zapatero ameaça com uma reforma das pensões de carácter regressivo, ao mesmo tempo que se recusa a pôr em marcha uma reforma fiscal que combata a fraude.

Foi em resposta a este curso dos acontecimento que a comissão executiva das CCOO, de comum acordo com a outra central sindical espanhola, a UGT, decidiu convocar a greve geral para dia 29 de Setembro.

Bascos não perderam tempo

Esta decisão foi fortemente contestada pelos sindicatos do País Basco por considerarem a data demasiado tardia, permitindo por isso que, chegando Julho, não haja mobilização e reacção adequada dos trabalhadores.
Por isso mesmo, as centrais sindicais bascas convocaram para 29 de Junho uma greve geral, apelando a que as pessoas “desçam à rua para que a greve geral seja mais ampla e contundente”. Esta paralisação teve larga adesão e foi acompanhada por manifestações e confrontos com a polícia nas principais cidades que reuniram dezenas de milhares de pessoas.

Se os problemas são os mesmos…

A greve geral marcada para final de Setembro está a ser precedida por assembleias em todos os centros de trabalho e zonas industriais e por manifestações nas capitais das comunidades e cidades autónomas (que já tiveram lugar em 30 de Junho). Está ainda marcada uma concentração de delegados sindicais em Madrid no dia 9 de Setembro.

Entretanto, também a 29 de Junho, os trabalhadores do metro de Madrid paralisaram o trabalho, recusando-se inclusive a cumprir os serviços mínimos; e nova greve ficou marcada para dia 7 de Julho.

A semelhança entre a situação espanhola e a portuguesa – que ressalta das exigências colocadas pelo patronato, do comportamento dos respectivos governos, da degradação acelerada das condições de trabalho e de remuneração impostas aos assalariados – mostra que a situação precisa de respostas idênticas da parte dos trabalhadores dos dois países.
Num quadro como este, faria sentido uma concertação entre as centrais sindicais espanholas e portuguesas para marcarem uma greve geral simultânea. A concretizar-se, tal iniciativa seria um passo que ajudaria a aumentar muito a capacidade de protesto dos trabalhadores e, consequentemente, a colocar em respeito governos e patrões dos dois lados da fronteira.


Comentários dos leitores

A CHISPA ! 7/7/2010, 11:51

É sempre importante confrontar as políticas anti-laborais e anti-sociais dos governos, com formas audazes de luta, neste caso com uma GREVE GERAL simultânea não só na peninsula Ibérica, mas mesmo no conjunto dos países da UE, como apelam os sindicalistas gregos da Central Sindical PAME. Apelo esse que sugeríamos, pela sua importância, que fosse reproduzido no site MudardeVida, como forma de solidariedade com a luta do proletariado grego e uma exigência a ser colocada ao movimento sindical em Portugal.
Saudações revolucionárias
A CHISPA!

afonsomanuelgonçalves 9/7/2010, 7:57

A crise actual veio demonstrar com clareza que, enquanto as lutas dos trabalhadores forem conduzidas por partidos e sindicatos decadentes, quer ideologicamente quer nas formas de luta adoptadas contra os seus inimigos de classe estão condenadas à derrota e ao fracasso. É uma lei inexorável da história e o revisionismo moderno não pode ser excepção, seja em Portugal, na Grécia ou em qualquer parte do mundo.

augusto 13/7/2010, 20:17

Foi o partido da Esquerda Europeia , de que faz parte o BE, que convocou esta jornada Europeia de luta.
E a CGTP já se associou à jornada.


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