Os conselheiros da Nação
Carlos Completo — 20 Maio 2010
Recentemente, nove ex-ministros das Finanças foram expor a Cavaco Silva (também ele um do elenco) a “preocupação” pela grave situação económica e financeira do País, assim como as razões da sua oposição aos grandes investimentos públicos do actual governo. E, também, o tipo de medidas que consideram ser necessário adoptar face a esta situação. Foram, no fundo, repetir o essencial do que têm propagandeado nos media do sistema.
Quando olhamos para aquelas caras, recordamos o nefando papel por eles desempenhado nos diversos governos da burguesia – a sua alta responsabilidade na espoliação dos trabalhadores, na liquidação da produção nacional, na política do betão, no endividamento e entrega do País ao estrangeiro. Quando ouvimos o que hoje dizem, omitindo as suas responsabilidades, falando do alto da sua “autoridade”, surgindo como salvadores da pátria, só podem estar a gozar com a nossa memória. Como se não tivéssemos sentido na carne as graves consequências das suas “notáveis”medidas económico-financeiras!
Ernâni Lopes e Medina Carreira, ministros de Mário Soares, Eduardo Catroga e Miguel Beleza, ministros de Cavaco Silva, Bagão Félix, ministro de Santana Lopes, João Salgueiro, ministro de Pinto Balsemão, Ferreira Leite, dos executivos de Cavaco e Barroso, Campos e Cunha, anteriormente ministro de Sócrates e, ainda, Pina Moura, ministro de António Guterres – estes os figurões que, cheios de dinheiro (apanhado no sector público e no privado), são hoje porta-vozes de vários interesses económicos, estando empenhados em pressionar o governo de Sócrates e procurando, igualmente, dar uma ajudinha a Cavaco Silva na sua caminhada para a reeleição presidencial.
Entretanto o bloco PS/PSD, actualmente dirigido por dois executivos do capital – José Sócrates e Passos Coelho – está a satisfazer-lhes a vontade. Às pressões internas, acresceram as decisivas imposições (alguns ainda pensam haver alguma autonomia do País em relação às potências imperialistas!) da Comissão Europeia, do FMI e da OCDE.
E os resultados estão à vista, com uma forte ofensiva já declarada contra os trabalhadores e os pobres: quebra dos salários reais e das pensões (através do aumento do IRS e do IVA), diminuição dos gastos com a saúde e a educação (atingindo milhares de trabalhadores destes sectores e prejudicando quem necessita de a eles recorrer), redução dos apoios aos desempregados. Ainda, entre as próximas medidas enquadradas nesta ofensiva, de destacar a prevista maior “flexibilização” da legislação laboral, que já está na forja.