O capital financeiro e a incapacidade dos governantes mundiais

Pedro Goulart — 12 Maio 2010

greciaeurobank_web.jpgApesar das evidentes responsabilidades do sector financeiro (mais claras com o início do desmoronamento financeiro mundial nos EUA, em Março de 2007) no agudizar da crise mundial do capitalismo, os banqueiros e os seus homens de mão têm conseguido, apesar do tempo já decorrido, evitar que lhes seja retirada parte significativa do poder e dos lucros do sector. A acumulação obcecada de capital financeiro tem-se mostrado claramente mais forte do que aquilo que pretenderiam fazer alguns governantes mundiais a favor de uma “regulação racional” do sistema. E a situação continua a manter-se – veja-se o que actualmente se passa na Europa, nomeadamente com Portugal, com as agências de rating servindo de veículo a uma forte especulação financeira.

Recentemente, numa reunião efectuada no dia 23 de Abril, em Washington, os ministros das Finanças dos países do G20 não chegaram a acordo sobre uma futura taxação bancária. «Alguns pronunciaram-se a favor, outros claramente contra», afirmou Jim Flaherty, ministro canadiano das Finanças, citado pela AFP.
Vários países, como os Estados Unidos, a França ou a Alemanha, tinham aprovado previamente um princípio de taxação, que foi objecto de proposta do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao G20, e que sugeria duas taxas: uma a aplicar a cada instituição financeira em função dos seus activos e dos seus elementos de risco e outra sobre os lucros e remunerações.

Já anteriormente, na reunião de ministros das Finanças e de presidentes de bancos centrais da União Europeia, que decorrera em Madrid, no dia 17 de Abril, Mário Draghi, membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu, acusava o sector financeiro de tentar travar os esforços de fortalecimento da supervisão e regulação do sector na Europa. Em conferência de imprensa, Draghi explicou, então, que as reformas propostas incluíam planos para obrigar o sector financeiro a pagar por crises passadas ou futuras. “Queremos que o sector financeiro seja mais estável, mas também menos lucrativo”, afirmou.

Atendendo às causas próximas e à gravidade da crise económica mundial, é de salientar que são já numerosos hoje os dirigentes capitalistas que, em desespero, dão parcial e conjunturalmente razão às críticas que economistas e políticos da ala esquerda do sistema têm vindo a formular ao modo de funcionamento do sector financeiro.

Mesmo assim, alguns outros dirigentes continuam a resistir à tomada de medidas. Falando aos jornalistas à margem da reunião de Madrid, o “nosso” Vítor Constâncio, futuro vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), defendeu a necessidade de não haver precipitação em taxar os bancos e de avaliar antecipadamente o impacto dos diferentes projectos de regulação do sector. “Precisamos de avaliar o impacto geral de tudo o que está a ser estudado em matéria de regulação do sector bancário”, declarou.
E esta reunião de Madrid terminou sem que ministros e banqueiros centrais chegassem a acordo sobre uma taxa a ser aplicada ao sector.

Foi, na sequência deste impasse, que Durão Barroso afirmou: “É justo que a banca, depois de todos os problemas que criou para a situação económica mundial, também dê um contributo para o futuro das nossas economias”. E, posteriormente, enquanto o comissário europeu para os Serviços Financeiros, Michel Barnier, declarava o seu apoio às recomendações feitas pelo FMI ao G20, afirmando que “se aproximam em muito das orientações” que apresentara na semana anterior durante uma reunião dos ministros das Finanças europeus, a Federação Bancária Europeia manifestava o seu desacordo com as sugestões do FMI, fazendo suas as palavras de Jim Flaherty, de que “o Canadá não seguirá o caminho da regulação excessiva, arbitrária ou punitiva do seu sector financeiro”.

As actuais divergências sobre o modo de agir entre banqueiros, burocratas e pessoal político dirigente correspondem às reais contradições do capitalismo. Mas estas divergências não dizem respeito aos fundamentos do sistema, que exigem a acumulação de capital, através da crescente exploração das classes trabalhadoras. Aqui, banqueiros, burocratas e pessoal político dirigente estão unidos na defesa dos interesses das classes dominantes. Eles, a pretexto da crise, estão de acordo no essencial quanto ao poderoso ataque que actualmente é dirigido contra as conquistas e direitos económicos e sociais dos trabalhadores.

Nas lutas diárias a desenvolver contra os exploradores, nas ruas, nos diversos locais de trabalho, nos media anti-sistema, os revolucionários devem ter presentes estas contradições no seio da burguesia, mas elas não podem servir para alimentar ilusões reformistas desviando as atenções de quem trabalha do essencial da luta – o derrube da ordem social capitalista. Só um combate determinado e profundo das classes exploradas e do povo poderá contribuir para uma saída positiva da difícil situação em que nos encontramos.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 16/5/2010, 9:09

Talvez não fosse má ideia analizar não só a "incapacidade" dos governantes para debelar a crise, mas também fazer um exame objectivo e rigoroso acerca da in-habilidade e total desnorte da oposição, incluindo a ala mais à esquerda, par enfrentar a situação. A ladaínha desta área política é sempre a mesma, e os sindicatos lá vão garatindo a sua sobrevivência à custa dos subsídios do governo. Mas ainda há mais:porque razão, o PCP não informa os trabalhadores sobre os milhões de dólares que o governo é obrigado a pagar à NATO para sustentar a guerra dos EUA no Afeganisatão e no Iraque... É assim que querem reduzir o chamado "défice público"? Será que a esquerda marxista-leninista não conhece a obra de Lenine, escrita em Setembro de 1917, " A Catástrofe Eminente que se Aproxima e os Meios para a Conjurar"? Ou conhece mas já esqueceu? É boa altura aproveitar este Verão, pouco soalheiro, para frequentarem um curso intensivo de teoria e táctica revolucionária, caso contrário acabam por serem contaminados pela Inter e pelo PCP com a já crónica e incurável arterioesclorose.
Com o BLoco não vale a pena perder tempo a "elogiar euforicamente" a sua "surpreendente modernidade".


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