Levantamento popular no Quirguistão derrubou governo aliado dos EUA

Manuel Raposo (*) — 5 Maio 2010

kyrgyzstan_72.jpgMilhares de pessoas arriscaram a vida, e dezenas foram mortas, num levantamento popular que derrubou o poder no Quirguistão, uma ex-república da URSS. O regime tinha estreitas relações com os EUA. O presidente deposto, Kurmanbek Bakiyev, tomou o poder em 2005 através de uma “revolução da Túlipa” promovida pelas potências do Ocidente. Uma das maiores bases militares dos EUA foi, então, instalada no país para apoio à guerra contra o Afeganistão. Só em Março, perto de 50 mil tropas dos EUA passaram pela base de Manas.

Recentemente, os EUA tinham aceitado aumentar o aluguer da base de 20 para 60 milhões de dólares ao mesmo tempo que, num acordo mantido secreto, o irmão do presidente Bakiyev venderia combustível para aviões dos EUA, negócio que lhe daria um lucro de 10 milhões de dólares por mês.

Entretanto, Bakiyev aumentou em Janeiro o preço da electricidade e da água de aquecimento em valores que vão de 170 a 400%, num país em que perto de metade da população vive abaixo do limiar de pobreza. Com tais preços, muita gente gastava 80% do rendimento em electricidade e aquecimento. Estas medidas foram uma sentença de morte para muitas famílias que tinham de escolher entre comer ou ter aquecimento.

Em 7 de Abril a população cercou os edifícios governamentais na capital, Bichkek, e recusou dispersar. Por ordem do presidente, a tropa disparou matando 75 pessoas e ferindo centenas. Mas a população invadiu os edifícios, enquanto a tropa e a polícia baixaram as armas.

O levantamento espalhou-se pelo país derrubando os representantes locais do poder. Um governo provisório, entretanto formado, pediu assistência económica à Rússia, afirmando que a sua prioridade é resolver as dificuldades materiais da população.

A insegurança da situação levou os EUA a cancelar todos os voos para o Afeganistão. E apesar de o novo governo não ter falado abertamente em cancelar o contrato da base militar de Manas – mas ter dito que tencionava encurtar o aluguer – as autoridades dos EUA mostram séria preocupação com a evolução da situação. Não só por poderem ter perdido um aliado, como por verem em risco um importante apoio da sua política de guerra no Afeganistão.

(*) Dados de um artigo de Deirdre Griswold, Workers World, 14 de Abril 2010


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