O interessante caso dos dois submarinos

Pedro Goulart — 9 Abril 2010

portassubmarinos_web.jpgSegundo a agência Lusa, o almirante Vieira Matias (chefe de Estado Maior da Armada entre 1997 e 2002 e, então, envolvido no processo de renovação da capacidade submarina) afirmou, a propósito de uma eventual denúncia do contrato dos submarinos, que Portugal deve “comportar-se como um país adulto”, antevendo consequências económicas para o país caso se verifique a “não concretização de um contrato assumido pelo Estado português”. Isto, segundo ele, por poder provocar o encerramento “de grandes empresas de capital alemão”, como a Autoeuropa, devido à participação de 30 por cento da Volkswagen na Man Ferrostaal (uma das empresas do consórcio alemão vencedor do concurso dos submarinos).

Estas curiosas declarações de Vieira Matias, que aparentam revelar um certo “sentido de estado”, não são novas: vêm na linha de anteriores e análogas declarações chantagistas de um administrador da Ferrostaal. Toda esta conversa do senhor almirante, mesmo depois do que se sabe sobre o escandaloso incumprimento das contrapartidas contratadas e das “luvas” distribuídas! Quer dizer, as empresas capitalistas e os estados poderosos, além de sacarem o dinheiro das armas vendidas, podem também praticar roubos extra com toda a impunidade. O capital e os seus homens de mão estão muito habituados a estas coisas – exploram, roubam e chantageiam permanentemente os trabalhadores e os povos.

Mas Vieira Matias acrescentou ainda que a renovação da capacidade submarina faz parte do “interesse nacional” e que “qualquer intenção, velada ou não, de prejudicar a capacidade submarina da Marinha é um crime de lesa pátria”.

Percebe-se bem os esforços e o “patriotismo” do almirante Vieira Matias e do contra-almirante Rogério Oliveira (este também senhorio e consultor), como se compreende lindamente os diversos “patriotismos” de Jurgen Adolff (cônsul honorário de Portugal na Alemanha), dos administradores da Ferrostaal, de Durão Barroso e Paulo Portas, dos Horta e Costa, de vários quadros superiores do Banco Espírito Santo ou de alguns advogados de escritórios conhecidos. Só não se percebe que falta nos faziam os tais dois submarinos. Para vigiar os barcos de guerra soviéticos? Para pescar?

Os dois submarinos adquiridos sempre foram considerados por muitos como inadequados num país como o nosso e traduzindo-se, efectivamente, em mais um desperdício de bens públicos. Embora a sua aquisição possa ter trazido umas boas “luvas” a certa gente. Esta é mais uma manifestação de que a corrupção é uma característica marcante do capitalismo putrefacto, sendo notória a existência de vários polvos, com numerosos tentáculos, na sociedade portuguesa. E que recorrem, habitualmente, a muitos disfarces!


Comentários dos leitores

Miguel K 21/4/2010, 18:17

Fico admirado - ou talvez não - pelo facto do Banco Espírito Santo do sr. Manuel Salgado, aparecer também mais uma vez associado, alegadamente, a este negócio escuro dos submarinos.
Como se explicam os 21 milhões de euros de comissões? Quem recebe comissões é porque promove uma venda... O que vendeu a ESCOM? E a quem?
Um texto interessante sobre o assunto aqui:
http://classemedia.biz/blog/sociedade/economia/corrupcao-submarinos-bes-outra-vez/

contramestre : os subamrinos lixam o deficit? Vendam-se! 26/5/2010, 14:56

[...] se vendam. Não vamos pescar com eles pois não?Ler sobre o negócio escuro aqui:http://www.jornalmudardevida.net/?p=1940 Publicação: Wednesday, May 26, 2010 3:59 PM por [...]


Envie-nos o seu comentário

O seu email não será divulgado. Todos os campos são necessários.

< Voltar