O capitalismo não cria emprego, destrói emprego

Urbano de Campos — 4 Janeiro 2010

desempregosemabrigo_web.jpgDiz-se que uma mentira muitas vezes repetida passa por verdade. Será assim se não for contrariada. Diante da onda incessante de despedimentos e de encerramento de empresas, o patronato e a direita insistem no slogan – como se fosse uma evidência – de que só as empresas criam emprego, significando com isso: a iniciativa privada capitalista.
O slogan serve para pressionar a política do governo, ainda mais, no sentido do apoio estatal ao capital, da redução de impostos às empresas; e, simultaneamente, de limitação dos gastos sociais do Estado com os trabalhadores. Ora, é fácil mostrar que a afirmação é falsa.

Desde logo, porque o Estado é de longe o primeiro empregador. Saúde, ensino, administração central e local, sistema de Justiça, forças armadas, polícias, empresas públicas… reúnem cerca de 700 mil postos de trabalho (cerca de 12% de toda a força de trabalho), número sem comparação com o de qualquer empresa privada.

Depois, porque os factos da actual crise mostram à evidência que são, de longe, as empresas privadas capitalistas as principais fontes de despedimentos, em primeiro lugar da massa operária. Não só despedimentos formais, colectivos ou individuais, mas também essa outra forma de criar desemprego que é fomentar o emprego precário.

Finalmente, porque a história mostra que o capitalismo não é uma fábrica de emprego, mas sim uma fonte de eliminação de emprego. Pela destruição da propriedade individual, pela concentração de capitais, pela evolução tecnológica, pela deslocalização de empresas – o capitalismo reduz cada vez mais a necessidade de trabalho vivo e, portanto, de emprego.

A crise actual acentua de forma brutal estes factos. Por isso se vê uma massa crescente de desempregados a par de uma exploração sempre mais inumana dos que ainda trabalham. Esta irracionalidade tem uma solução prática: dividir o trabalho socialmente necessário por todos os braços disponíveis. Nesta crise, uma tal medida tem ainda mais sentido; por isso, a Plataforma Anticapitalista em que participamos defende a proibição dos despedimentos e a redução do horário de trabalho sem redução de salários.

Só exigindo medidas deste tipo – que põem em primeiro lugar a defesa dos seus interesses vitais – podem os trabalhadores fazer frente eficazmente à onda de despedimentos e à miséria que a acompanha.

O silêncio da oposição de esquerda diante da cassete do patronato e da direita revelam uma incapacidade de fundo para responder ao problema do desemprego no curso desta crise – e contribui para que a mentira mil vezes repetida passe por verdade.


Comentários dos leitores

UON 4/1/2010, 15:50

Este artigo vem demonstrar preto no branco que a falácia da criação de empregos está na iniciativa privada, o qual não é verdade como diz o artigo.
O Sr. Paulo Portas é um dos mandaretes dessa mentira e até a esquerda BE e PCP está a ser contagiada por esta treta.
O Estado também é uma fonte de desemprego porque cada vez mais impõe restrições e selecções para diminuir o emprego no Estado e dantes o próprio Estado recrutava imensos trabalhadores para os seus quadros, mas agora a coisa mudou de fugura, por cada cinco reformados só um trabalhador é que entra.
Portanto o próprio Estado está a contribuir para que haja mais desempregados e mais trabalhadores precários e até em câmaras do PCP a precariedade é mais que muita.
O único meio para garantir trabalho para todos é a diminuição dos horários de trabalho para metade, ou seja, 4 horas diárias em turnos sem perca de salários a não ser para quem ganhe muito acima dá média do trabalhador médio.
A autogestão dos meios e dos recursos das empresas e do próprio Estado e a sua destruição, pode ser uma alavanca para combater este estado de coisas e melhorar a vida dos trabalhadores com mais tempo livre para dar oportunidade a outros de trabalhar e contribuir para mudar de vida.

António Poeiras 13/1/2010, 15:01

Dito assim parece simples: bastava o governo decretar a divisão do trabalho existente por todos os empregados e desempregados para a coisa andar às mil maravilhas; mas não é!
Contudo, é verdade que o capitalismo não gera emprego mas desemprego: a cada "crise" reduz-se o número de empregos criados na "retoma".
A simples introdução de tecnologia nova (de produção como de gestão) mais a concorrência e os limites ao crescimento são suficientes para destruir empregos, não é necessária qualquer conspiração nem que a propriedade seja privada: o estado como patrão único teria problemas idênticos.


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