Editorial
Vale tudo
12 Dezembro 2009
Dois temas marcam a actualidade: a onda contínua de despedimentos e de encerramento de empresas, sem que os poderes do Estado esbocem qualquer intervenção para a travar; e a revelação sucessiva, quase diária, de actos de corrupção mostrando a ligação familiar entre poder político e negócios.
A falta de qualquer intervenção séria do Estado para travar os despedimentos, ao mesmo tempo que presta generosa ajuda, com os dinheiros públicos, às empresas arruinadas por colapso dos negócios ou por simples fraude, tem o condão de mostrar a real face do Estado. A crise acentua a dependência do capital face ao Estado e exige dele mais intervenção; cada vez mais o Estado tem de ter papel activo na manutenção e na reprodução do sistema capitalista. Progressivamente, torna-se claro que o Estado é um instrumento das classes proprietárias para manter na linha os assalariados e lhes extorquir tudo o que puder.
Isto é patente no programa que emerge das exigências do patronato que, com mais ou menos compromisso, os partidos do poder procuram levar a cabo: baixa dos impostos sobre o capital; liberalização dos despedimentos; redução dos subsídios sociais e das despesas do Estado que não beneficiem o capital; reforço policial, para prevenir a agitação social; justiça em 24 horas para o pequeno delito, aquele que directamente decorre da crise social, mas não para o grande delito, do foro próprio do capital.
A corrupção, que os defensores do capitalismo e os que sonham emendá-lo querem reduzir a casos de excepção e a desvios de comportamento, faz parte da vida corrente do capital. Agora, emerge em catadupas porque, entre a família capitalista, se exacerbam também as disputas pela sobrevivência. O sucesso dos negócios clama por mais garantias e exige fazer dinheiro em pouco tempo. Nesta disputa, vale tudo. E é por isso que, para o poder, combater a corrupção e manter os negócios é uma verdadeira quadratura do círculo.