O que Obama não disse: há apenas 100 combatentes da Al Caida no Afeganistão

ABCNews/Manuel Raposo — 11 Dezembro 2009

karzai_72.jpgBarack Obama decidiu enviar mais 30 mil soldados para o Afeganistão, a um custo de 30 mil milhões de dólares por ano, justificando a medida com o que chamou o “cancro” da Al Caida. De acordo com um artigo publicado em 2 de Dezembro pela ABCNews, Obama omitiu um facto importante: os serviços secretos norte-americanos reconhecem que há apenas cerca de 100 membros da Al Caida no país inteiro.

Um alto funcionário dos serviços secretos disse à ABCNews que a estimativa traduz as conclusões a que chegaram as agências de inteligência dos EUA e o Departamento de Defesa. Aquele número foi transmitido à Casa Branca quando o presidente Obama procedia às suas deliberações.
No discurso proferido em West Point, Obama fez apenas uma referência vaga à dimensão da presença da Al Caida quando disse “a Al Caida não tem no Afeganistão o mesmo número que antes do 11 de Setembro [de 2001], mas mantém os seus refúgios ao longo da fronteira [com o Paquistão]”.

Em Outubro, o Conselheiro de Segurança Nacional de Obama, general James Jones, falou em “menos de cem” numa entrevista à CNN. Na mesma altura, também a senadora democrata Jeanne Shaheen, falando no Comité de Relações Exteriores do Senado, disse que “os serviços secretos referem cerca de cem membros da Al Caida no Afeganistão”.

Numa audiência no Senado, o ex-chefe da rede da CIA do Paquistão, Bob Grenier, testemunhou igualmente que a Al Caida já tinha sido derrotada no Afeganistão. “Então, no que respeita ao Afeganistão”, perguntou-lhe o senador John Kerry, “eles foram desmantelados e derrotados. Eles não estão no Afeganistão, correcto?” Resposta de Grenier: “É verdade”.
Como Obama reconheceu, a Al Caida agora opera a partir do Paquistão, onde as tropas dos EUA não actuam, pelo menos formalmente. Os serviços secretos calculam que existam centenas de combatentes da Al Caida na fronteira do Paquistão; e, por isso, as tropas adicionais seriam necessárias no Afeganistão, de acordo com um representante da administração Obama, para “ensanduichar” a Al Caida entre o Paquistão e o Afeganistão, e impedi-la de se restabelecer no Afeganistão.

Os 100 mil militares norte-americanos no Afeganistão, a um custo estimado anual de 30 mil milhões de dólares, significam 1.000 soldados e 300 milhões de dólares por ano por cada combatente da Al Caida.

Questão não menos importante está em saber se o Paquistão “fará o suficiente” para derrotar a Al Caida do seu lado da fronteira. Verbas avultadas são dadas pelos EUA ao Paquistão para esse fim, mas nos governantes norte-americanos está instalada a dúvida sobre se as autoridades paquistanesas as usam mesmo para o efeito. E daí a interrogação sobre que estratégia seguir no caso – o que pode significar uma decisão norte-americana de estender abertamente a guerra ao território paquistanês.

A Al Caida, continua assim a ser pretexto para anestesiar a opinião pública. Na verdade, o que os EUA enfrentam é uma rebelião geral contra a sua presença no Afeganistão e no Paquistão. O espectro do Vietname está presente não apenas pela derrota norte-americana que se adivinha, mas também pela tentação dos EUA de alargarem a guerra, como, na Indochina, fizeram com o Laos e o Cambodja.


Comentários dos leitores

Strauss 22/12/2009, 3:29

Nenhum exército convencional é capaz de vencer guerrilheiros se o terreno lhes é desfavorável. Que pena que os SENHORES DA GUERRA não possam mais obter uma pequena lição com FIDEL CASTRO, que foi a pequenina biblioteca de DEUS na terra sobre táticas de guerrilhas


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