Como a CIP ditou o rumo ao governo

Manuel Raposo — 19 Outubro 2009

francisco-van-zeller_cip_72dpflp.jpgMal os votos das eleições legislativas estavam contados, o presidente da CIP fez saber como deveria ser o próximo governo e a sua política, com o à vontade de quem dá orientações a um conselho de administração.
Disse o senhor Van Zeller que o PS não deveria procurar apoios à esquerda e à direita conforme lhe conviesse. Mostrou que, se não obtivesse o apoio do PSD, o PS poderia negociar com ele a abstenção, que já daria para fazer passar o que quisesse com o apoio do CDS. Vincou que a política do novo governo tinha de ser “definida” e “conhecida”. Avançou mesmo indicações sobre quem deveria ficar no governo e quem deveria partir, não sendo de admirar que propusesse a continuidade de Teixeira dos Santos (Finanças) e de Vieira da Silva (Trabalho e Segurança Social). E, por fim, não teve problemas em conceder que “lá para essas questões fracturantes”, aí sim, poderia o PS ir buscar apoios onde bem quisesse.

Para sublinhar bem o recado que estava a dar, fez saber que, se o novo governo de Sócrates não transmitir “cá para fora” uma “sensação de estabilidade”, as empresas deixarão de investir.

Sabe-se quais são as questões decisivas de política que o patronato, pela voz de Van Zeller, quer ver “definidas” e “conhecidas” e que tipo de “estabilidade” pretende ver assegurada: a aplicação integral do código do trabalho, a inteira liberdade de despedir e de recorrer a trabalho precário, a garantia de plena protecção do capital por parte do Estado, a certeza de que os custos da crise capitalista serão facturados aos assalariados.

Ou isto, dizem os patrões, ou a fuga de capitais – isto é, a chantagem do boicote económico. O que significaria atirar para cima de Sócrates umas dezenas de milhares de novos desempregados, como ameaçou há meses, em linguagem de jagunço, o menos polido presidente da Associação dos Pequenos e Médios Empresários.

O patronato respeita muito os resultados eleitorais, desde que eles lhe garantam o sucesso dos negócios. Se houver dúvidas, como se vê, faz das armas económicas argumento político. O mesmo direito assiste aos trabalhadores: a resistência nas empresas e na rua é o seu argumento decisivo.


Comentários dos leitores

HEITOR DA SILVA 22/10/2009, 22:42

Este texto é uma crónica que relata claramente as relações de trabalho existentes no país e dela retiro 2 conclusões não menos claras:
1- Que o patronato está organizado e sabe muito bem defender os seus interesses de classe. NÃO DELEGA EM NINGUÉM
2-Os trabalhadores, por sua parte, revelam um mais que pobre estado de organização por ausência de verdadeiros ÓRGÃOS AUTÓNOMOS DE CLASSE.
O patronato UNIDO dita, a uma só voz, ao governo ao seu serviço o que quer, enquanto os trabalhadores, desunidos, porque DELEGAM em falsos amigos - leia-se Partidos e/ou Sindicatos - que, intencionalmente, estão para os desunir, impedindo-os de falar com VOZ PRÓPRIA e TOMAR EM SUAS MÃOS A SUA PRÓPRIA DEFESA.
Os resultados falam por si mesmos...


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