Veneradores e obrigados?
19 Setembro 2009
A página internet do semanário Expresso anunciava a 27 de Agosto uma entrevista (por um enviado especial…) a Fernanda Silva, uma algarvia que é, há 34 anos, “um elemento fundamental na família Bruni Tedeschi” e que presentemente “trabalha no Eliseu como braço-direito de Carla Bruni, a primeira-dama de França”. A nutrida reportagem foi publicada dois dias depois.
Os comentários que a seguir publicamos não foram dirigidos ao MV, naturalmente. Mas não resistimos a dar conta das reacções dos leitores do Expresso a tão importante novidade. Uns indignados (não com o papel da portuguesa, mas com o relevo que o semanário dá ao caso). Outros orgulhosos, parece, da condição de subalternos.
– …as notícias do Estado Novo! Lembram-se da história da costureira que tinha feito a bandeira americana que foi para a Lua? Não há mesmo mais notícias?
– Servir, servir, chapeladas e venham os euros. Aliás, os PIN para o turismo rico na costa alentejana, serão para pôr a malta a servir às mesas dos europeus ricos e fazer camas. Com sorte ainda vamos tomar conta dos idosos para a terra deles…. Aleluia!
– …Uma empregada doméstica portuguesa no Eliseu, grande surpresa!
– Que orgulho ver (mais uma vez) uma portuguesa entre a criadagem (desculpem a expressão) de gente rica e importante! Por isso é que os estrangeiros estão convencidos que Portugueses só sabem fazer limpezas (as mulheres) e ser trolhas (os homens). Já nem falo do estereótipo do escarrar para o chão, dos chinelos e da bata, do analfabetismo, do bigode… que tanto nos “orgulha” por esse mundo fora…
– Certa gente exige algum “know how” por parte da criadagem. Veja-se o que se passa na velha Albion. O facto duma portuguesa “dirigir” a casa da Carla Bruni já é algum estatuto, que não está ao alcance de qualquer “femme de ménage”. Estou mesmo convencida que alguns dos homúnculos que aqui debitam opiniões sobre o estatuto desta dita portuguesa nem para engraxar sapatos serviriam. É uma tristeza aquilatar do nível e do propósito das intervenções desses pigmeus armados em gigantes. Bravo portuguesa pelo teu desempenho no palácio do Eliseu. Deixa falar estes parasitas subsidiados pelo socialismo da Abrilada da nossa desgraça!
– Esta é para os (doutores, engenheiros, advogados) que aqui desprezam a “criadagem portuguesa”. Com certeza não será uma notícia de primeira página, mas é um orgulho, sim senhor! É que muitos de vocês falam porque têm inveja (…). Meus amigos, seja o trabalho que for e onde for, do momento que se faça com dignidade, deve ser sempre motivo de orgulho (…). Acredito que muitos de vocês [se] tivessem oportunidade de sair de Portugal, não olhavam para trás, agora assim, como estão em casa a mamar à conta do orçamento, ficam frustrados de ver as outras pessoas bem…
– Somos tão, tão pequeninos na mentalidade, que nos orgulhamos de ser criados de franceses famosos. Como se já não chegasse sermos conhecidos pela Europa fora como os jardineiros dos suíços e as empregadas domésticas dos franceses, ainda fazemos notícia disso no nosso país. (…) Não censuro quem vai para o estrangeiro trabalhar, com as oportunidades que se tem cá, não é de admirar que a emigração seja atractiva. Somos há muito tempo, e continuamos a ser, um país de emigrantes. Será porque o nosso país estagnou?
– Um cão na Casa Branca de raça originária em Portugal é motivo de orgulho? Uma empregada de Carla Bruni é motivo de orgulho? Quem se deslumbra com as coisas pequenas, ou não tem capacidade para admirar as grandes, ou não tem coisas grandes com que se admirar.
– Aliás, Adão… era português.