Os EUA adiam a crise

Carlos Simões — 20 Agosto 2009

chinaeuadebtcartoon.jpgNo calor do Verão, as economias ocidentais regressaram ao crescimento, mas é um falso milagre. Com a economia norte-americana a registar crescimento e desaceleração no desemprego, os economistas dizem que a recessão acabou. A França e a Alemanha foram surpreendidas por igual sinal positivo nas suas estatísticas. Até Portugal cresceu um terço de um por cento no segundo trimestre do ano, e José Sócrates correu para reclamar o resultado como prova da sua liderança e genialidade.

Para os EUA, a retoma deve-se à Reserva Federal Americana (o Fed) que tem sido incansável e sem escrúpulos na protecção da finança. Antes de 2007, as funções primárias do banco central norte-americano eram recolher as reservas legais dos bancos, comprar títulos da dívida pública para financiar o programa do governo, e escolher a taxa de juro que limitasse a inflação. Com o colapso do sistema financeiro, o Fed adquiriu novas e inesperadas funções. O Fed substituiu os bancos emprestando directamente às empresas fundos de curto prazo, entre 100 a 500 milhares de milhões de dólares. Desde Setembro de 2008, o Fed adquiriu os títulos baseados em hipotecas que ameaçavam os bancos de investimento, num total de 100 milhares de milhões. Finalmente, o Fed tem oferecido empréstimos às casas financeiras sem divulgar os termos dos contratos, nomeadamente as garantias que exige.

A crise cuja causa imediata fora o culminar da dívida pública e privada norte-americana, sobretudo no mercado imobiliário, foi “resolvida” com a nacionalização da dívida, o trabalho feito pelo Fed, e pelo aumento da dívida pública com programas de recuperação das empresas automóveis, seguradoras e bancos de investimento e planos de novas obras públicas. O governo norte-americano evitou a morte de gigantes industriais e financeiros mas não os salvou, comprou tempo. A nova dívida foi criada com a impressão de mais papel, notas de dólar, e venda de títulos do Estado para o estrangeiro.

Em Setembro de 2008, tanto a China como o Japão detinham 610 milhares de milhões de dólares em títulos, portanto 1.220 de um total de 2.800 milhares de milhões de dívida. Menos de um ano depois, este total subiu para 3.200 milhares de milhões, com a China financiando metade da nova dívida. Mas, mesmo os amigos chineses que mantêm a estabilidade do dólar precisam de contrapartidas para o seu investimento. Os EUA terão que pagar os juros que devem, através de forte crescimento económico ou aumento de impostos. Senão será a falência em massa da finança e indústria norte-americanas e o fim, já há muito anunciado, do dólar como moeda de referência internacional.

Num jogo de póquer, o jogador que está a ficar sem fichas aposta tudo o que tem.


Comentários dos leitores

Jusefina 26/11/2009, 10:31

Interessante. Possibilitou grande ajuda, obrigada!
Com os melhores cumprimentos.


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