Sócrates – argumentos e instrumentalizações

Pedro Goulart — 27 Março 2009

manif13marco2009.JPGQuando Vieira da Silva desvalorizou a manifestação da CGTP do passado dia 13, dizendo que não havia alternativa às medidas do PS (“ investir mais e trabalhar com as empresas, para garantir emprego”) ou Pedro Adão e Silva afirmou que “ a manifestação de ontem é um exemplo de mobilização política do movimento sindical sem uma componente visível de conflitualidade laboral”, cumpriram o seu papel de batedores de Sócrates, preparando a opinião pública para aquilo que o chefe viria dizer a seguir sobre esta manifestação.

No final de uma visita a Cabo Verde, e interrogado pelos jornalistas sobre a manifestação da CGTP-IN, na véspera, o primeiro-ministro afirmou, entre outras coisas:
«Não quero discutir o número de participantes, até porque o número não é argumento. Lamento mas discordo dos dirigentes sindicais que organizam manifestações desse tipo, porque não é solução para nenhum dos problemas»;
«Lamento que nessas manifestações não existam argumentos, mas apenas acusações e insultos. Lamento que organizações sindicais se limitem ao insulto e ao insulto pessoal, chamando-me mentiroso”.

Finalmente, Sócrates acusou ainda os sindicatos de se «deixarem instrumentalizar» na convocação de manifestações contra o Governo «pelo PCP e Bloco de Esquerda».
Ao desprezar o número de manifestantes, ao armar-se mais uma vez em vítima, ao considerar que os protestos contra o aumento do desemprego, da precariedade e do empobrecimento (assim como contra os salários e pensões de miséria), são apenas insultos e não argumentos sérios, José Sócrates confirma-se, sem surpresa, como alguém ambicioso e arrogante.

O primeiro-ministro, ao afirmar o que afirmou sobre a instrumentalização dos sindicatos, pressente o que provavelmente o espera dentro de pouco tempo – a perda da maioria absoluta. Mas Sócrates fala sobre a instrumentalização dos sindicatos da CGTP (e pouco depois aparece na televisão a discursar durante um Encontro da tendência socialista da UGT), não por que defenda a autonomia das classes trabalhadoras face ao poder político e aos partidos, mas sim por pretender a subordinação dos trabalhadores às orientações do governo e aos interesses do capital.

A confusão entre razões e argumentos é propositada por parte do primeiro-ministro. Razões, há-as de sobra para os protestos. E argumentos também os há. O que talvez seja necessário é que os argumentos dos trabalhadores sejam mais contundentes. Aí, o governo obrigatoriamente ouvi-los-á!


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