A China é banca dos EUA

Carlos Simões — 16 Março 2009

hillary-na-china72dpi.jpgEm Fevereiro, Hillary Clinton esteve na China na última paragem da sua viagem ao Oriente. No encontro com os líderes chineses, a secretária de estado norte-americana garantiu o financiamento do programa de retoma económica dos EUA e iniciou uma nova fase nas relações entre os EUA e esse país.

A China é hoje o maior credor dos EUA, tendo ultrapassado o Japão em 2008. No primeiro ano da crise, a China financiou cerca de 500 milhares de milhões de dólares da dívida pública norte-americana. A China detém ainda as maiores reservas de moeda estrangeira do mundo – 1,95 biliões de dólares – e é a maior detentora de moeda norte-americana. O programa de retoma económica da administração Obama foi orçamentado em 789 milhares de milhões de dólares. Hillary Clinton firmou o compromisso chinês de financiar parte do défice público norte-americano, através da compra de títulos do tesouro.

O acordo consolida a dependência entre os dois países. A China adquire dívida e moeda norte-americana para impedir que a moeda chinesa, o yuan, se valorize contra o dólar, o que tornaria mais caros os produtos chineses vendidos no mercado norte-americano. Impedir a valorização do yuan é também impedir a desvalorização do dólar o que teria consequências danosas para o poder de compra das reservas chinesas em dólares. A China sentiu a crise em súbita força no último mês com as suas exportações a descerem 17 por cento. Alguns economistas chineses sugerem mais do mesmo ao propor uma desvalorização do yuan face ao dólar, comprando mais dólares nos mercados internacionais.

Um dos pilares do programa de retoma económica dos EUA é o investimento em tecnologias verdes. A campanha contra o aquecimento global torna-se assim uma promoção das inovações norte-americanas e Clinton quis garantias do governo chinês de que este vai iniciar uma renovação industrial com tecnologia norte-americana.

Enquanto a presidência Bush dialogava com a China através do departamento do Tesouro, a visita da Secretária de Estado de Obama denota uma vontade de cooperação política. A nova administração escolhe a China como parceiro preferencial no distante Oriente. Às relações comerciais juntam-se as financeiras e as diplomáticas. Poucos dias antes de Clinton partir para o Japão, onde iniciou o seu itinerário, as construtoras de automóveis norte-americanas, sofrendo de anos de derrotas contra as marcas japonesas, pediram um empréstimo de emergência ao Estado. O objectivo da visita de Clinton é o de tentar usar a China como recurso na competição com inimigos mais tradicionais e próximos, como a Europa e o Japão.


Comentários dos leitores

António Lopes 20/3/2009, 0:31

Este é realmente um dos problemas fundamentais, a questão não só da dívida americana-vs-direitos humanos e democracia na China, incluindo também os direitos ambientais e do trabalho. Aqueles que queriam nas democracias ocidentais um mercado totalmente aberto, estavam, e estão, errados. Não pode existir mercado aberto, enquanto não existirem direitos iguais de trabalho, Democracia e Liberdade para todos os seres humanos.
O antigo paradigma só produz ganância e desigualdade. A solução está nos povos livres do mundo, é chegada a hora de assumirem a responsabilidade de libertar todos os seus irmãos que não são livres, não só através da solidariedade na imigração, mas também nesse clima de liberdade comum que usufruimos, criarmos a solução, pois somos livres de o fazer, quando os outros não o são. Usemos isso para tornar o mundo melhor e mais sustentável, só aí a humanidade vai prosperar e progredir, para lá das estrelas do universo. Se não o fizermos seremos responsáveis perante Deus pelo falhanço, e o mais triste de tudo é que, povos livres, ou não livres são todos descendentes da mesma criação/evolução.


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