Editorial
A primeira medida
13 Março 2009
Uma operária com 54 anos, acabada de ser despedida, dizia à televisão em Fevereiro: “A empresa fecha, mas não fecha por minha culpa, que eu sempre dei mais do que podia”. É um resumo exacto da situação em todo o país: depois de ter sido sugada até ao tutano, a massa operária é atirada para o lado à medida que o capital se retira esperando a ocasião para novas aventuras lucrativas.
Em cima dos 70 mil novos desempregados contabilizados em Janeiro, mais 4 mil trabalhadores estão ameaçados de despedimento colectivo.
A gravidade da situação actual, e dos próximos anos, não tem paralelo em muitas décadas. A insistência com que o poder e os patrões falam do “pior que está para vir” não é exagero – é uma preparação dos espíritos.
Consequentemente, as medidas que a burguesia portuguesa procurará pôr em prática serão também extraordinárias, tal como por todo o mundo. Mas aqui, as fraquezas do capitalismo nacional tornarão tudo mais brutal. Pensar o contrário só ajudará a desarmar a resistência dos trabalhadores.
Não tem, pois, sentido tentar convencer o capital a não despedir nas empresas que dão lucro, sugerindo que todas as outras o poderão fazer à vontade. Não basta também responder com o alargamento do subsídio de desemprego, porque isso significa agir depois de o mal estar feito, e aceitar que passe para o Estado o encargo patronal de pagar salários.
As vítimas desta sangria do emprego, em primeiro lugar o operariado, têm direito a resistir por todos os meios. Está em causa a sua sobrevivência. Não é a saúde do capital que as tem de preocupar mas a sua própria sobrevivência. São estes os termos da luta de classes em curso. A resposta só pode ser colectiva, aplicar-se a todo os sectores laborais e enfrentar o problema na sua fonte. A primeira medida de resposta à situação é exigir a suspensão dos despedimentos.