A vantagem das crises

Ismael Pires — 18 Novembro 2008

Nem tudo é mau nas crises. A crise do Banco Português de Negócios (BPN) tem a virtude de mostrar, a quem ainda tivesse dúvidas, a verdadeira face dos políticos pertencentes ao bloco central de interesses que governa Portugal há décadas. E saem dela todos irremediavelmente esturricados.

A começar pelo governo de Sócrates que lá foi injectando avultados capitais, através da Caixa Geral de Depósitos, mesmo sabendo das falcatruas e da situação de insolubilidade em que o BPN se vinha arrastando. O ministro das Finanças Teixeira dos Santos, essa triste criatura, apertado no Parlamento lá consegui a muito custo desembuchar. Afinal sabia de tudo, mas achou melhor calar-se. E até tentou dar uma última ajudinha junto com Viera da Silva enfiando lá mais uns dinheiritos da Segurança Social. Mas apenas para uma conta antiga para não dar nas vistas. Enfim estavam lá o confrade Oliveira Martins e um genro do Aznar. Tinha de ser.

O desregulado Governador do Banco de Portugal esse coitado fez de contas que não sabia de nada. Nunca desconfiou, nem sequer investigou. Apareceu pressuroso e triste na televisão afirmando que tinha ouvido uns rumores, umas coisas vagas, umas impressões. Nunca se provou nada, disse ele. É certo que havia um banco de Cabo Verde que lhe lembrava de vez em quando umas irregularidades com off-shores e um balcão virtual. Mas daí a desconfiar. E claro Sócrates reiterou-lhe todo o seu apoio e confiança. Os reguladores querem-se assim venerandos e agradecidos ao governo. Tudo a bem da Nação. No que respeita à área do PS estamos conversados. Dirão eles um dia: era um Banco Bom Para Nós.

Que era um Banco Bom Para Nós, dirão também os políticos da área do PSD ou não fossem os seus dirigentes e gestores bons e velhos cavaquistas. A começar pelo adoentado Oliveira e Costa que dirigiu o BPN até o afundar, que além de deputado pelo PSD foi secretário de estado dos Assuntos Fiscais nos governos de Cavaco Silva. Outro figurão do PSD que também por lá passou foi o administrador Manuel Dias Loureiro, outro antigo ministro de Cavaco Silva. Mas a lista não pára aqui. Por lá andaram ainda Daniel Sanches, ministro da Administração Interna do governo de Santana Lopes e Rui Machete presidente da mesa do congresso do PSD e presidente do conselho superior do BPN. Até ao final inglório com Cadilhe, a tentar ainda sacar mais umas massas, foram muitos os laranjinhas que ali «encheram a mula».

Realmente era um Banco bom para todos eles. Por isso teve a ajuda do actual governo PS e o apoio dos governos do PSD de antes. Agora que está falido é um Banco Bom para Vocês todos queridos portugueses. O presidente Cavaco assina por baixo. Nacionalize-se rapidamente. Já está.


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