A força dos negros num Estado cinzento
Rita Moura — 7 Novembro 2008
4 de Novembro de 2008. O dia começou chuvoso na Carolina do Norte, mas a maioria das pessoas estava confiante que o sol ia espreitar mais tarde, com os primeiros resultados das eleições presidenciais. Desde Outubro que se vivem dias interessantes nesta parte do mundo. A última vez que a Carolina do Norte votou democrata foi em 1976. Ainda no ano passado foi referido como “o estado eternamente republicano”. Mas nos últimos meses, a corrida presidencial ficou em aberto. E a força da mudança está nos negros e negras da Carolina do Norte.
Obama visitou o estado 33 vezes no último ano e meio. Os comícios abarrotaram, chegando às 25 mil pessoas de cada vez. Foi a curiosidade de ver a pessoa, mais do que o interesse político, que me levou a um dos comícios. Mas logo me apercebi que mais interessante do que ver “a pessoa”, era ver “as pessoas”. A maioria da assistência tinha pele escura e o seu ânimo era contagiante. Uma velhota de 70 anos que pediu a um jovem para a erguer sobre a multidão para ver “o nosso presidente”. Uma menina de 10 anos que eloquentemente respondeu o que os pais lhe haviam ensinado: “Estou aqui porque quero ajudar a fazer história, elegendo o Sr. Obama”. Um homem de 40 anos que votou este ano pela primeira vez e “até foi fácil”.
No dia da eleição, todos queriam contribuir como podiam. Para incentivar a ida às urnas, os cafés davam abatanados de borla e as gelatarias ofereciam um cone a quem fosse votar. Os voluntários disponibilizavam uma boleia ate às mesas de voto, ou melhor descrito, até às longas filas de voto. E se a espera para poder votar foi demorada, a noite foi ainda mais lenta. Apesar de 90% dos negros, um terço do eleitorado na Carolina, apoiar Obama, a corrida foi apertada. No mapa, o estado era um dos poucos a cinzento, a marcar a incerteza. Um sentimento agridoce para quem tanto quis ver o “seu presidente”.
A eleição do primeiro presidente negro, depois de 43 brancos, num país onde um em cada oito habitantes são negros, é um momento memorável. O que os norte-carolinos esperam é que a noite do dia 4 não seja o ponto alto dos próximos 4 anos.
Comentários dos leitores
•Jorge Sorel 9/11/2008, 19:47
Isto é alguma apologia à participação eleitoral, à mobilização às urnas? Será esta aparente ruptura com a instituição do racismo uma excepção espectacular ou a superação dessa instituição? Fiquei sem entender.
•John Catalinotto 9/11/2008, 19:58
Escrevo dos Estados Unidos. Obrigado à camarada Rita pela explicação da profundidade desta eleição nos Estados Unidos e especificamente para a comunidade afro-americana aqui e no estado de North Carolina. Ajudará a compreender a situação aqui.
•Rita Moura 20/11/2008, 0:15
J Sorel – Não tenho nem boas nem grandes expectativas em relação ao mandato de Obama, sobretudo quanto a questões internacionais. O texto quer mostrar o que aprendi com esta eleição - a forma como a comunidade negra se mobilizou e como viu nesta campanha uma possibilidade para se afirmar.
J Catalinotto – Haverá outras estórias para contar sobre o significado desta eleição? Como foi entendida a eleição de Obama noutros Estados, e noutras comunidades?
•John Catalinotto 6/12/2008, 4:14
R. Moura:
Desculpe, mas tenho problemas escrevendo em português. Há muitas estórias em inglês e espanhol sobre as reacções noutros Estados, desde Harlem, em Nova Iorque, até Chicago, Nova Orleães e Califórnia. Não em todos os Estados, mas em muitos. Veja em www.workers.org. A Carolina do Norte é um dos mais importantes, porque fez parte da antiga Confederação e tem votado Republicano há 40 anos ou mais, incluindo o voto pelo reaccionário Jesse Helms durante 30 anos para o Senado.
J. Sorel:
Não muda fundamentalmente o imperialismo e o racismo estadounidense, mais acredito que a mudança seja muito grande quando se pode escolher um afro-americano como presidente.
John