Outras guerras
João Bernardo — 21 Outubro 2008
“Tirem da palha as espingardas, a metralha, as granadas
“Oh! matadores! à bala e à faca, matem depressa
“Oh! sabotador! atenção ao teu fardo, dinamite”
Este apelo ao terrorismo, ao assassinato e ao derrube violento das instituições, que pelo simples facto de ser escrito suscitaria hoje ao autor sérios problemas com as autoridades e que, se fosse posto em prática, levaria os executantes − caso não fossem mortos − para Guantánamo, foi impassivelmente escutado pelo presidente da República Francesa, Nicolas Sarkozy, e proferido por um coro de militares fardados, com o cabelo cortado à escovinha, perante um público de generais e de senhores enfatiotados com ar de serem alguma coisa. Quem não acreditar que veja
http://www.youtube.com/watch?v=Uc1ykcSk4J8&feature=related
É que não são de agora, aqueles versos, são de outra guerra, quando a França estava ocupada pelas tropas nazis e os matadores e os sabotadores desbravavam o terreno para o estabelecimento da legitimidade actual. O hino a que os versos pertencem chama-se Le Chant des Partisans, o que se pode traduzir como O Canto dos Guerrilheiros, e o poema deve-se a Joseph Kessel e Maurice Druon, dois escritores de direita, adversários da ocupação da França. O hino diz também:
“Há países onde as pessoas, no calor da cama, podem sonhar
“Aqui, estás a ver, nós marchamos e nós matamos, nós morremos”
É como hoje, quando também há países onde as pessoas, no calor da cama, podem esquecer que há outros países, com outras guerras.