Editorial
Os termos do confronto
20 Outubro 2008
Os meios políticos e capitalistas nacionais começaram por fazer crer que a crise era “americana” e que o sistema financeiro português não iria sofrer grandes danos. Agora, que a recessão é dada como certa, aproveitam a mundialização da crise para justificar a deterioração das condições de vida dos trabalhadores. A afirmação do ministro da Economia de que acabou “o mundo de prosperidade (?) em que vivemos durante 10 a 15 anos” é um primeiro sinal de uma nova ofensiva sobre o trabalho a coberto das “dificuldades”.
O facto de termos um capitalismo débil faz com que as consequências por cá sejam ainda mais graves. As empresas com alguma expressão, sendo subcontratantes das transnacionais, serão as primeiras sobre as quais o grande capital sacudirá os custos da crise que, por sua vez, serão sacudidos sobre os trabalhadores.
Enquanto o capitalismo durar, os trabalhadores terão um dilema que é uma das armas mais fortes dos capitalistas. Se se recusam a suportar o peso da crise e o empurram para o capital, os lucros dos patrões diminuirão, os investimentos mais se retrairão e o desemprego aumentará. Se cedem à ilusão de pacto entre capital e trabalho para ultrapassar a crise “em conjunto”, a deterioração das condições de vida é consentida pelos trabalhadores ou pelos seus “representantes” sindicais. A história mostra que a agudização das crises, em vez de proporcionar melhores condições de luta, tem servido para vergar a resistência dos trabalhadores.
A resposta agora tem de ter por base o interesse de classe dos assalariados, contra o interesse de classe dos capitalistas. Não há interesses “nacionais” ou “económicos gerais” que estejam acima deste confronto. É pois urgente dar voz a todas as lutas, impedir o seu isolamento, estimulá-las, reforçar a solidariedade entre os trabalhadores.
É o que nós, Mudar de Vida, procuraremos fazer.