Os chineses de Guantánamo
João Bernardo — 15 Outubro 2008
Um despacho da Associated Press com data de 8 de Outubro noticiava que nos Estados Unidos, a pedido do governo Bush, um tribunal federal de recurso suspendera temporariamente uma decisão judiciária que ordenava a libertação imediata de 17 muçulmanos chineses presos em Guantánamo desde 2001. Chineses? Em Guantánamo? Encarcerados há sete anos? Nunca de tal eu ouvira falar. Procurei a explicação, e de um texto razoavelmente embrulhado consegui perceber o seguinte.
Os 17 homens, originários da província do Xinjiang, nos confins ocidentais da China, estavam a receber treino militar no Afeganistão e no Paquistão com o objectivo de desencadear uma insurreição muçulmana no seu país, quando foram aprisionados pelas tropas norte-americanas.
Passado todo este tempo, a administração Bush achou que podia libertar os 17 chineses. Mas como eles tencionavam permanecer nos Estados Unidos, ajudados por compatriotas que se haviam prontificado a acolhê-los, um porta-voz da administração declarou que o governo não quer aqueles homens em território norte-americano. E como é demasiado escandaloso enviá-los para a China, onde seriam presos de novo, e como nenhum outro país se ofereceu até agora para os receber, continuam na prisão.
Não menos interessante é o facto de o mesmo despacho noticiar que já em 2006 o governo albanês aceitara 5 muçulmanos chineses libertados de Guantánamo, o que faz um total de 22, mas não queria agora repetir o gesto por recear retaliações chinesas.
Nada mais lógico, no mundo de hoje. Muçulmanos chineses, aparentemente interessados em acções subversivas contra o governo do seu país, são presos pelo governo norte-americano sob o pretexto de ameaça aos Estados Unidos. A globalização da economia parece estar a sofrer alguns problemas sérios neste momento, mas se há coisa que continua a funcionar bem é a globalização da repressão.